“We Are Women, We Are Here”

Este é o título da campanha desenvolvida pela Perkins&Will para colaborar com o fomento da representatividade feminina na Arquitetura e Urbanismo. Desde 2019, o estúdio global compila, em website exclusivo (“Women of Perkins&Will”), histórias, trajetórias profissionais e visão da arquitetura para o futuro do grupo de mulheres que fazem parte de seu quadro de colaboradores

© Simone Noronha / Via The New York Times

 

Em março de 2019, simbolicamente durante o Mês da Mulher, a Perkins&Will tornou público o website “Women of Perkins&Will” (para o português, “Mulheres da Perkins&Will”), como resposta própria de combate à realidade discrepante entre gêneros no exercício profissional arquitetônico e urbano pelo mundo.

A iniciativa – fruto do contato com a matéria extraída do jornal The New York Times, “Where are all the female architects?” (“Onde estão todas as arquitetas femininas?”), por Allison Arieff, de dezembro de 2018 – não se trata apenas de reunir os rostos das profissionais, mas de aproximar o leitor às brilhantes trajetórias, construídas uma a uma, de cada arquiteta integrante do quadro de colaboradores do estúdio global. Busca-se, portanto, torná-las conhecidas, exaltá-las publicamente, e enaltecer a composição majoritária feminina (e, em inúmeros casos, posta em cargos de liderança), que impulsionam o prosperar da Perkins&Will.

 

Website “We Are Women. We Are Here”, da Perkins&Will

 

Tão vasto é o alcance global da empresa, composta por 26 estúdios pelo mundo, quanto as realidades vivenciadas pelas mulheres que nela atuam. No Brasil, por exemplo, em março de 2019, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR) apresentou um panorama acerca da presença feminina no setor, majoritária e crescente – do total registrado no Conselho, 64% mulheres e 36% homens -, porém ainda com baixa representatividade em instâncias decisórias de entidades profissionais e em posições de comando de empresas privadas ou cargos públicos. Se observado por Unidade Federativa, o percentual pode ser mais ou menos contrastante [leia na Revista PROJETO: CAU/BR segue pela promoção da equidade de gênero na Arquitetura e Urbanismo].

 

 

Número de registrados no CAU por Unidades da Federação © Via CAU/BR

 

Contrário ao tal panorama brasileiro, mais especificamente o referente ao estado de São Paulo, que pouco difere dos valores obtidos ao percentual federativo, a sede paulistana da Perkins&Will apresenta a maioria dos cargos de Gerente de Projeto ocupados por mulheres, além de corpo de funcionários majoritariamente feminino – dos 87 colaboradores, 48 são mulheres. Dentre elas, destaca-se Lara Kaiser, que além de colaboradora, é líder do setor de arquitetura hospitalar e gestora operacional no estúdio.

Em entrevista exclusiva à Revista PROJETO, Lara pontuou, de início, sobre a “extrema necessidade da presença de mulheres na liderança, de forma equiparada a dos homens”, e sobre seu compromisso em debater o tema, justamente pela vivência e superação de inúmeros obstáculos para que chegasse a ocupar tal posição.

Quando ingressei na Perkins&Will São Paulo, quase 80% dos profissionais eram homens, assim como a maioria dos gestores. É fácil de imaginar que tive muitos desafios a serem vencidos e muito com o que colaborar para que essa situação fosse modificada”.

Apesar de vivenciar outra perspectiva atualmente, Lara relata ter encontrado, desde o início de sua atuação profissional, há 25 anos, quase a totalidade de escritórios configurados por lideranças patriarcais e piramidais.  “Na minha história, com algumas dessas lideranças masculinas, lembro-me de ter sido assediada. (…) Em tempos passados a gente se calava. Hoje percebo que é mais fácil nos defendermos de situações como essas, por existirem também mais meios de expor e transparecer quaisquer abusos”.

Longe de corresponder ao ideal desejável – pois ainda é tardia, escassa e desproporcional a equiparação entre gêneros no setor -, Lara aponta, com otimismo, para o futuro da profissão em defesa aos direitos profissionais das mulheres, tendo como base o grau de instrução sobre o tema com que as jovens de hoje adentram ao mercado, além da possibilidade de elas se espelharem em cada vez mais casos de sucessos femininos no setor.

“Eu tive o prazer de ter sempre em minha vida uma mulher muito inspiradora, minha mãe. Design de interiores, muito inteligente e empreendedora, ela sempre me mostrou muita força para lutar e se posicionar. Por isso, até em meus momentos de fraqueza, eu mesma via a necessidade de resistir para, no mínimo, equiparar-me a ela. (…) Dito isso, eu vejo que as arquitetas júnior do escritório projetam sobre mim (e outras profissionais de carreiras ilustres) olhares de admiração. É ótimo porque, assim como eu tinha um exemplo familiar de resiliência, elas também possuem referências e se impulsionam ao que desejam a si mesmas”, finalizou.

Saiba mais

Website “We Are Women. We Are Here”

Publicação do The New York Times: “Where Are All the Female Architects?”