Foto: Fábia Mercadante
Realizada na noite da última quarta-feira, 26 de abril, no Museu da Casa Brasileira (MCB), em São Paulo, a primeira edição de 2017 do ciclo de palestras promovido pela revista PROJETO e pelo portal ARQ!BACANA teve como protagonista o escritório paulistano Terra e Tuma Arquitetos Associados, de Danilo Terra, Pedro Tuma e Fernanda Sakano. O evento, que conta com o apoio cultural do Senac, reuniu nas dependências do MCB um público de mais de 120 pessoas, entre profissionais e estudantes de arquitetura.
Danilo Terra e Pedro Tuma (Fernanda não participou) contaram para uma plateia predominantemente de jovens profissionais a trajetória que o estúdio percorreu desde sua constituição, em 2006, até as mais recentes experiências, incluindo o projeto da residência de vila Matilde, em São Paulo (a casa da Dona Dalva), que se tornou um paradigma de como o projeto de arquitetura não é, necessariamente, um artigo de luxo, e pode contribuir para a dignidade das pessoas.
As cenas iniciais (e enigmáticas) de “Paris, Texas”, filme do diretor alemão Win Wenders, – onde um personagem surge do nada na rude e inóspita paisagem do oeste americano e destampa um semivazio galão, bebe um gole de água, o fecha e segue seu caminho – serviram como introdução à palestra que os arquitetos realizaram no MCB, que prendeu a atenção do público durante 1 hora de apresentação e mais 45 minutos de perguntas e debate.
“Nossa conversa não é linear. Não é uma palestra portfólio”, esclareceu logo de início Terra, observando, de forma irônica, que ao saírem da escola (eles se formaram na FAU/Mackenzie) eles perceberam que “o mundo é mais amplo que a arquitetura”. “Tínhamos dificuldade de manter a conversa no almoço de domingo com nossos pais” ele detalhou, acrescentando que passaram os cinco primeiros anos depois de formados “produzindo papel”, ou seja, projetando obras que não sairiam da prancheta. “Estávamos distante do mundo real”.
Foi ao se convencerem de que construir é mais importante que desenhar, que descobriram novos horizontes para o seu ofício. Como dica aos jovens arquitetos presentes, disseram que vale mesmo aquele projeto que pode virar realidade: “um banco, uma reforma na casa do tio, uma residência, o que vier”, exemplificam. Apesar dessa reorientação no rumo profissional, continuaram a participar de concursos de arquitetura (se aventuraram e foram vencedores no Morar Carioca – “mas o Eduardo Paes decidiu fazer a Olimpíada”, brincou Terra – e posteriormente participaram e venceram um dos lotes do Renova São Paulo).
Terra e Tuma acreditam que façam hoje uma arquitetura social e que os modelos nos quais as escolas de arquitetura se baseiam (apoiados em tecnologias e custos distantes de nossa realidade local) não servem para a prática profissional no Brasil. O cenário brasileiro – de escassez e precariedade – possui semelhança com Chile, Colômbia e México, avaliaram. Ressaltaram também que as estreitas parcerias (desde colegas de profissão como com engenheiros e mestre de obras), são essenciais para assegurar o bom desempenho da arquitetura na qual acreditam.
A atuação em projetos de urbanização em áreas de risco – objeto do concurso Renova São Paulo – é considerado pela dupla como um aprendizado essencial. Para eles, projetos urbanos “não é apenas desenhar uma praça”. Urbanizar é, além de ter uma visão social de cada situação – e eventualmente ter que convencer moradores que a mudança será benéfica -, também projetar boas escadas, calçar vielas, entender e inserir no projeto executivo as redes de água e esgotos.
Como não poderia deixar de ser, a casa da vila Matilde (de Dona Dalva, que tem hoje mais de setenta anos e que ainda trabalha) também foi abordada. Além de contarem as conjunções que os levaram a ser contatados (e contratados) pelo filho da proprietária, revelaram que, em decorrência do trabalho, chegaram a ser entrevistados pelo Fantástico (programa jornalístico e de entretenimento da Rede Globo de Televisão), mas recusaram a participar do Esquenta (programa de auditório da mesma emissora, apresentado por Regina Casé) e do É de Casa (idem, em quadro apresentado por Zeca Camargo).
Ao final, mantiveram o público cativo ao responderem perguntas da plateia, muitas das quais a respeito de sua obra mais famosa. Segundo Tuma, a responsabilidade após um projeto de tanta repercussão é muito grande, por se ter se tornado símbolo do que acreditam que seja o status da profissão: uma ação social, além do mero aspecto formal.
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