(Foto: PROJETO)

Snøhetta

Kjetil Thorsen é o fundador do Snøhetta e membro do júri do Obel Award. Nesta conversa com a PROJETO, realizada no contexto do Obel Award Talks, Thorsen revisita a história do escritório para identificar momentos seminais da sua trajetória. Fala, ainda, sobre o espírito de trabalho da equipe e analisa a arquitetura do Snøhetta, confrontada com questões contemporâneas.

 

Que tipos de escolhas moldaram o Snøhetta de hoje?

 

“Um documento das Nações Unidas, de 1987, denominado Our Common Future, foi o ponto de partida do nosso olhar para a arquitetura e a paisagem, juntas. Começamos a nos perguntar sobre tipologias em que a arquitetura é também o desenho da paisagem”.

“Atingimos o domínio público e começamos a trabalhar com projetos culturais. A Biblioteca de Alexandrina então, de 1989, foi exemplo da nossa tentativa de implementação de estratégias sociais em nossos projetos, inclusive no arranjo do trabalho. A ideia era criar um tipo de base, de plataforma, para gerar um sentimento de pertencimento das pessoas ao projeto”.

“E a partir de 15 ou 16 anos atrás começamos a mergulhar mais e mais nos aspectos do meio ambiente: questões climáticas, biodiversidade, adaptabilidade. Entraram em cena outras estratégias de projeto, outras tipologias, como a Opera House de Oslo.

 

Como difundir e sedimentar essas aspirações dentro do escritório?

 

“Temos nove estúdios em torno do mundo. É essencial fazer todos participarem dos conceitos dos projetos. Promovemos workshops de conceituação e publicamos livros sobre eles, chamados Idea Works. Além disso, nos movemos sempre entre os estúdios. Afinal de contas, criação é sempre sobre pessoas”.

 

 

“Vamos a fundo nos detalhes, nas escolhas de materiais … nós testamos sempre. Nos concentramos no corpo do trabalho mais do que em projetos específicos e eu gosto de ver as relações intrínsecas da produção como um todo. Como os times crescem, como eles interagem”.

“Por isso é que muitas vezes nos dizem que não temos estilo. É isso mesmo! Não temos estilo”.

“Eu adoro o desafio de esquecer do que eu gosto, de esquecer as teorias que tenho na cabeça, mudar completamente, voltar ao ponto zero e começar de novo”.

 

Não ter estilo não significa não ter princípios. Quais são os princípios do Snøhetta?

 

“Trabalho colaborativo e processo guiado por conceitos. Juntamos especialistas e pedimos para que se esqueçam das suas expertises”.

 

Um trabalho intuitivo, em certo sentido. E aberto ao erro?

 

“Procurar pela completa perfeição é perigoso. Você não pode planejar tudo e eu vejo isso como oportunidade. Na Opera House, convidamos as pessoas a tocarem no edifício, a criarem uma intimidade com ele, mas jamais pensamos nos skatistas, nos ciclistas andando na cobertura. Isso não é totalmente permitido e pode parecer um erro. Poderia ser definido assim porque não foi algo que visualizamos antes, mas …”.

 

Como Snøhetta lida com os desafios da arquitetura contemporânea?

 

“Com a diversidade. Colocamos lado a lado arquitetos, antropólogos, designers gráficos, artistas, cientistas, e fazemos com que eles se desafiem reciprocamente. Em cada projeto”.

“Questionando as barreiras, provocamos esses indivíduos a colaborarem, coletivamente. Isso é o Snøhetta”.

“O futuro da arquitetura é continuar procurando respostas, porque não existe uma única resposta. Temos que viver essa complexidade”.