Pavilhão de São Paulo © Nadia Castronovo

São Paulo está representado na Countless Cities 2021

Com o tema ‘People Live Here. A More Human Approach’, o evento bienal italiano abriga 23 pavilhões, dentre os quais está o da capital paulista, curado pela fotógrafa e pesquisadora especializada em arquitetura e urbanismo, Corinna Del Bianco

A bienal Countless Cities 2021, promovida pelo Farm Cultural Park, permanece exposta até 16 de janeiro de 2022, em Favara, Sicília (Itália). Com o tema ‘People Live Here. A More Human Approach’ abriga 23 pavilhões, cada um dos quais dará voz a arquitetos, artistas e criativos que, graças as suas culturas regionais, exploram novas práticas e ideias relacionadas com a forma de vida do futuro.

A cidade de São Paulo é representada nesta edição pelo pavilhão curado por Corinna Del Bianco, fotógrafa e pesquisadora especializada em arquitetura e urbanismo, que apresenta seus trabalhos de carreira no que se chama ‘Espaços de Habitação Espontânea – São Paulo’, onde está o estudo de caso dedicado à cidade brasileira no âmbito do projeto homônimo ‘Spontaneous Living Spaces’, concebido em 2011 com o foco investigativo em diferentes contextos culturais através da análise e documentação de casas autoconstruídas. Além da capital paulista, foram desenvolvidos estudos às cidades de Hong Kong e Pemba, em Moçambique.

 

 

No caso brasileiro, o pavilhão se concentra em um bloco residencial da favela Guapira II, na zona norte de São Paulo, parte do bairro Jardim Filhos da Terra, que iniciou o processo de regularização em 2008. O visitante se depara, portanto, com extensa documentação fotográfica, entrevistas, modelos e vídeos que revelam a vida da comunidade, ao lado de levantamentos de espaços e funções residenciais e uma análise morfológica do bairro que determinam as tipologias habitacionais prevalecentes.

 

Jardim Filhos da Terra © Corinna Del Bianco

 

A autoconstrução define uma grande parte do tecido urbano e da paisagem das cidades nos países em desenvolvimento. A necessidade de autoconstruir moradias muitas vezes deriva da urgência em encontrar alojamento e de possibilidades econômicas limitadas. Na maioria das vezes, esses assentamentos surgem como uma solução temporária, passando a se consolidar como parte integrante da cidade”, afirma o descritivo.

 

Corinna Del Bianco mostra a importância de documentar esses fragmentos urbanos como etapas do desenvolvimento da cidade e de identificar e analisar as características de viver em tais contextos. Este método de pesquisa permite um panorama mais integrado com a cultura de vida local, respeitando as necessidades e aspirações dos seus habitantes.

Sabe-se que todo o levantamento foi desenvolvido com o apoio da Prefeitura Municipal de São Paulo, em particular com a Secretaria de Habitação (SEHAB), na época com a Superintendente (2005-2012) arquiteta e urbanista Elisabete França, e com a supervisão de Stefano Boeri e Pier Paolo Tamburelli, do Politécnico de Milão.

Ainda, nos meses finais da bienal, será lançada a segunda edição do livro ‘Jardim Filhos da Terra – Espaços de Vida Espontânea em São Paulo’, uma publicação da LetteraVentidue Edizioni, e assinada por Del Bianco. O volume é uma documentação das viagens pelas tais casas autoconstruídas de São Paulo, especificamente no Jardim Filhos da Terra, zona norte da cidade, e se insere no projeto de investigação Spontaneous Living Spaces.

 

 

Desta forma, a própria localização do evento no centro histórico de Favara é uma provocação que estabelece relação com o bairro paulistano, “destacando como é viver um processo inteiramente cultural e como as experiências arquitetônicas podem combinar contextos muito diferentes”, elucida o descritivo.

A relação entre as duas cidades é ampliada por três analogias: a primeira ligada à paisagem natural recriada com o uso de espécies de plantas nativas brasileiras; a segunda sobre urbanização representada pela foto panorâmica da favela Bamburral de São Paulo, de Filippo Romano; e a terceira, que tem como ponto de partida a ligação entre o formal e o informal, através de uma análise da tipologia habitacional prevalecente no Jardim Filhos da Terra e de uma seleção de casas famosas da história da arquitetura.

 

A exposição convida o visitante a confrontar-se com a descoberta, destacando como as duas realidades – brasileira e siciliana – são notavelmente semelhantes em linguagem formal de habitação, assim como em características do tecido urbano”, pontua o descritivo.

 

No pavilhão ainda é possível encontrar um vídeo filmado por Maria Eduarda Chaves – menina de oito anos de idade que acompanhou espontaneamente os meses de pesquisa de campo e contribuiu ao documentar o interior da casa de sua tia; uma série de curtas que mostram os elementos característicos do cotidiano brasileiro, como rodas de samba, maracatu e rua; e a videoconferência sobre o tema Morar, com Corinna Del Bianco e Stefano Boeri.

Corinna Del Bianco foi também convidada para curar o pavilhão dedicado à cidade de Prato (Itália), em trabalho conjunto com Valerio Barberis, Conselheiro de Urbanismo e Meio Ambiente do Município de Prato, e Andrea Bartoli, Diretora Artística do Farm Cultural Park.

 

 

Num momento em que a esfera habitacional assume um papel cada vez mais importante, a investigação de Corinna Del Bianco, ligada ao crescimento espontâneo das cidades, reflete e comunica o verdadeiro valor de viver através da relação entre paisagem construída e natural, entre interior e exterior, e entre comunidades em diferentes contextos culturais”, finaliza o descritivo.

 

Saiba mais

www.countlesscities.com

www.corinnadelbianco.com

www.letteraventidue.com/jardim-filhos-da-terra