Em Portugal, mostra aborda 90 anos de arquitetura brasileira

Inaugurada nesta sexta-feira (28) na Casa da Arquitectura (CA) – Centro Português de Arquitectura, na cidade de Matosinhos, a exposição “Infinito Vão – 90 Anos de Arquitetura Brasileira”

Com nome inspirado nos versos de Gilberto Gil em “Drão” (O verdadeiro amor é vão | estende-se infinito | imenso monólito | nossa arquitetura), a mostra reúne 90 projetos de autores fundamentais para a compreensão da arquitetura brasileira nos últimos 90 anos, como João Filgueiras Lima, Lina Bo Bardi, Lucio Costa, Oscar Niemeyer e Rino Levi, além de profissionais que seguem em atividade, como Carla Juaçaba e a dupla Vinícius Andrade e Marcelo Morettin.

Trata-se da primeira exposição ao público da “Coleção Arquitetura Brasileira”, que vem sendo constituída desde 2016 e é formada por 103 projetos e 50 mil itens, entre desenhos, fotografias, maquetes, filmes, cerâmicas e documentos.

O conjunto é fruto de mais de 200 doações dos arquitetos e seus herdeiros e será mantido pelo Centro Português de Arquitetura a fim de fomentar estudos de pesquisadores e compor exposições futuras do acervo da Casa da Arquitectura (CA), que está situada em Matosinhos, norte de Portugal.

A mostra ocupa os 1.000 metros quadrados da Nave Expositiva da CA e, além dos desenhos e maquetes dos projetos, foram selecionados aproximadamente 150 livros sobre o tema, que serão incorporados à biblioteca da entidade. 

“Infinito Vão – 90 Anos de Arquitetura Brasileira” está organizada em seis núcleos temporais. O primeiro vai até 1943 e anuncia um Brasil que se reinventa sob a forma moderna. Deste período é a Casa modernista da rua Itápolis (1930), em São Paulo, de Gregori Warchavchik, e o Conjunto da Pampulha, em Belo Horizonte, de Oscar Niemeyer (1940).

O segmento seguinte, de 1943 a 1957, evidencia uma arquitetura arrojada, de espaços amplos, perfis sinuosos e grandes vãos. Nele estão os projetos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1952), de Affonso Eduardo Reidy, o Museu de Arte de São Paulo (1957), de  Lina Bo Bardi, e o Plano Piloto de Brasília (1957), de Lucio Costa. 

Entre 1957 e 1969, a arquitetura carioca declina e surge em São Paulo uma produção vigorosa, baseada no uso pleno do concreto armado e aparente, na afirmação do peso e exploração formal das estruturas. São exemplos a Casa Castor Delgado Perez (1958), de Rino Levi, Luiz Carvalho Franco e Roberto Cerqueira César, a Casa Tomie Ohtake (1966), de Ruy Ohtake, e o Parque Anhembi (1968), de Jorge Wilheim e Miguel Juliano, todos na capital paulista. 

De 1969 e 1985, em meio ao regime militar e o mantra do “milagre econômico”no Brasil, Eurico Prado Lopes e Luiz Telles, com o Centro Cultural São Paulo (1976), e Lina Bo Bardi, com o Sesc Pompeia (1977), criam edifícios lúdicos, nos quais a didática estrutural já não é o centro da questão. No Amazonas, Severiano Porto combina a linguagem moderna com a tradição construtiva indígena no Centro de Proteção Ambiental de Balbina (1983).

O núcleo seguinte compreende os anos de 1985 a 2001, com o retorno à democracia no país e o desejo de implementar um novo modo de vida. Sediado na Bahia, João Filgueiras Lima (Lelé) adapta as “formas livres” de Niemeyer a um raciocínio de industrialização de componentes para a construção do Hospital Sarah Kubitschek (1991) em todo o Brasil. Já no Rio de Janeiro, o programa Favela Bairro Rio das Pedras (1998), de Jorge Mário Jáuregui, é uma resposta à opressão dos grandes conjuntos habitacionais da era militar. 

A exposição fecha com projetos de 2001 a 2018, observando uma convivência contrastante entre uma valorização hedonista da arquitetura, um forte ativismo pelo “direito à cidade”, a especulação imobiliária e ocupações de sem-teto. Entre os projetos estão o Pavilhão Humanidade (2011), criado por Carla Juaçaba para o Rio +20, e o Instituto Moreira Salles (2011), em São Paulo, de Andrade Morettin.

A curadoria é de Guilherme Wisnik e Fernando Serapião, enquanto que Nuno Sampaio – que dirige a entidade de promoção da arquitetura portuguesa e internacional – idealizou a programação paralela.

No início de novembro, São Paulo receberá parte do programa, com debates, mesas-redondas e o lançamento do catálogo de “Infinito Vão”, que serão realizados em parceria com a Casa Azul.

“Infinito Vão – 90 Anos de Arquitetura Brasileira” segue em cartaz em Matosinhos até 28 de abril de 2019.

Veja a lista dos projetos expostos:

– Casa Modernista da rua Itápolis (1930) – Gregori Warchavchik
– Edifício Esther (1934) – Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho
– Caixa d’Água (1934) – Luiz Nunes
– Praça da Casa Forte (1935) – Roberto Burle Marx
– Associação Brasileira de Imprensa (1935) – Marcelo e Milton Roberto
– Ministério da Educação e Saúde (1936) – Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcelos
– Museu das Missões (1937) – Lucio Costa
– Conjunto da Pampulha (1940) – Oscar Niemeyer
– Conjunto residencial Pedregulho (1946) – Affonso Eduardo Reidy
– Escola-parque (1947) – Diógenes Rebouças
– Instituto de Puericultura e Pediatria (1949) – Jorge Machado Moreira e equipe
– Casa das Canoas (1951) – Oscar Niemeyer
– Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1952) – Affonso Eduardo Reidy
– Edifício Lausanne (1953) – Adolf Franz Heep
– Angélica (1954) – Jorge Wilheim
– Conjunto Nacional (1955) – David Libeskind
– Serra do Navio (1956) – Oswaldo Arthur Bratke
– Primeiros esboços dos palácios de Brasília (1956) – Oscar Niemeyer
– Palácio do Alvorada (1956) – Oscar Niemeyer
– Pavilhão de São Cristóvão (1957) – Sergio Bernardes
– Teatro Castro (1957) – José Bina Fonyat
– Urubupungá (1957) – Ernest Mange
– Plano Piloto de Brasília (1957) – Lucio Costa
– Museu de Arte de São Paulo (1957) – Lina Bo Bardi
– Congresso Nacional (1958) – Oscar Niemeyer
– Palácio do Planalto (1958) – Oscar Niemeyer
– Casa Castor Delgado Perez (1958) – Rino Levi, Luiz Carvalho Franco e Roberto Cerqueira César
– Casa A. C. Cunha Lima (1958) – Joaquim Guedes e Liliana Guedes
– Edifício Metrópole (1959) – Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia
– Casa Boris Fausto (1961) – Sergio Ferro
– Conjunto habitacional de Cajueiro Seco (1963) – Acácio Gil Borsoi
– Casa Mário Masetti (1964) – Carlos Millan
– Rio do Futuro, revista Manchete (1965) – Sergio Bernardes
– Casa Tomie Ohtake (1966) – Ruy Ohtake
– Centro de Convivência Cultural (1967) – Fábio Penteado, Alfredo Paesani, Teru Tamaki e Aldo Calvo
-Teatro Municipal de Santos (1967) – Oswaldo Corrêa Gonçalves, Abrahão Sanovicz e Julio Katinsky
– Parque Anhembi (1968) – Jorge Wilheim e Miguel Juliano
– Estação Armênia do Metrô (1968) – Marcello Fragelli e equipe
– Hering Matriz (1968) – Hans Broos
– Avenida Paulista (1973) – João Carlos Cauduro, Ludovico Martino e Rosa Kliass
– Edifício Acal (1974) – Pedro Paulo Saraiva, Sérgio Ficher e Henrique Cambiaghi Filho
– Casa Bola (1974) – Eduardo Longo
– Sede da Chesf – Companhia Hidroelétrica do São Francisco (1976) – Assis Reis
– Caraíba (1976) – Joaquim Guedes
– Centro Cultural São Paulo (1976) – Eurico Prado Lopes e Luiz Telles
– Sesc Pompeia (1977) – Lina Bo Bardi
– Cafundá (1977) – Sergio Magalhães, Clóvis Barros, Silvia Pozzana e Ana Lúcia Petrik Magalhães
– Capela de Santana do Pé do Morro (1979) – Éolo Maia e Jô Vasconcellos
– Centro de Proteção Ambiental (1983) – Severiano Porto
– Estação Largo 13 de Maio (1984) – João Walter Toscano, Odilea Toscano e M. Kamimura
– Museu Brasileiro da Escultura (1986) – Paulo Mendes da Rocha
– Capela de São Pedro (1987) – Paulo Mendes da Rocha
– Casa Hélio Olga Jr. (1987) – Marcos Acayaba
– Escola Guignard (1989) – Gustavo Penna
– Moradia Estudantil da Unicamp (1989) – Joan Villà
Estações tubo (1990) – Abrão Assad e Carlos Eduardo Ceneviva
– Casa na praia de Pernambuco (1990) – Oswaldo Arthur Bratke
– Copromo (1991) – Usina CTAH
– Hospital Sarah Kubitschek (1991) – João Filgueiras Lima
– Favela Bairro Rio das Pedras (1998) – Jorge Mário Jáuregui
– Fórum de Cuiabá (2000) – Marcelo Suzuki
– CEU Butantã (2001) – Alexandre Delijaicov, André Takiya e Wanderley Ariza
– Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e IEB (2001) – Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb
– Galeria Adriana Varejão/Inhotim (2004) – Rodrigo Cerviño
– Museu do Futebol (2005) – Mauro Munhoz
– Sede da Fundação Habitacional do Exército (2005) – MGS + Associados
– Praça das Artes (2006) – Brasil Arquitetura e Marcos Cartum
– Museo de la Memoria y de los Derechos Humanos (2007) – Mario Figueroa, Lucas Fehr e Carlos Dias
– Centro de Artes e Educação dos Pimentas (2008) – Biselli + Katchborian
– Complexo Cantinho do Céu (2008) – Marcos Boldarini
– Jardim Edite (2008) – MMBB e H+F
– Sede do Sebrae Nacional (2008) – Álvaro Puntoni, Luciano Margotto, João Sodré e Jonathan Davies
– Studio SC (2009) mk27
– Parque Novo Santo Amaro V (2009) – Héctor Vigliecca
– Casa de Fim de Semana (2010) – Angelo Bucci
– Pavilhão Humanidade (2011) – Carla Juaçaba
– Instituto Moreira Salles (2011) – Andrade Morettin
– Minimod (2011) – Mapa BR
– Galeria Claudia Andujar/Inhotim (2012) – Arquitetos Associados –
– Residencial Arapiraca (2012) – Triptyque
– Sesc Franca (2013) – SIAA e Apiacás
– Ita Ciências Fundamentais (2014) – Metro Arquitetos

Infinito Vão – 90 Anos De Arquitetura Brasileira
Local Casa da Arquitectura (CA)
Endereço Avenida Menéres, 456 – Matosinhos, Portugal
Data 28 de setembro de 2018 a 28 de abril de 2019
Mais informações e eventos da programação paralela no site da Casa da Arquitectura