Estudos para roçabarroca, 2018/2020, Thiago Honório | Foto: Edouard Fraipont

MAM SP exibe trabalho inédito de Thiago Honório

Intitulada ‘roçabarroca’ (2018/2020), mostra resgata histórico e técnica de procedimento construtivo brasileiro utilizado no período colonial a partir de memórias do artista mineiro

O Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta até 15 de março de 2021 a instalação ‘roçabarroca’ (2018/2020), do artista mineiro Thiago Honório, no Projeto Parede – espaço entre o saguão de entrada do MAM e a Sala Milú Villela. Na obra, Honório recobre as paredes do corredor do prédio, reformado por Lina Bo Bardi (1914-1992), com taipa de mão e pau a pique – procedimento construtivo brasileiro utilizado no período colonial.

Tal vestimenta das paredes internas do corredor, que se inicia no Auditório Lina Bo Bardi e dá acesso ao restaurante e à sala principal de exposições, é feita com terra e galhos secos recolhidos no Parque do Ibirapuera – isso porque a técnica vernacular consiste no entrelaçamento de ripas ou toras de madeira verticais com galhos ou vigas de bambu horizontais, amarrados entre si por sisal ou cipó, engendrando uma grande estrutura tramada cujos vãos se preenchem com barro.

O título da obra vem do livro e do poema “Roça barroca”, ambos da poeta Josely Vianna Baptista (1957), responsável pela tradução do mito poético da criação do mundo da tribo indígena Mbyá-Guarani do Guairá, a partir de cantos sagrados. “Ao unir as duas palavras, a grafia explicita elementos presentes na instalação, como roça, oca, oco, barro e barroca”, conforme aponta o descritivo da mostra.

 

 

 

Ainda como uma das referências centrais do projeto, além de Lina Bo Bardi e Josely Vianna Batista, encontra-se Lygia Pape (1927-2004) com o texto “Tramas de caboclo ou a geometria no mato”. Segundo Lygia Pape:

Herdeiro de uma tradição vinda do índio e depois do branco, o caboclo trança o bambu ou os ramos em um gesto quase sistêmico como o índio, mas elabora o vedamento das paredes com a informação recolhida do branco: o barro amassado. O processo de construção envolve uma poética própria: em primeiro lugar surge a gaiola de amarrados e que determina as áreas de uso, depois o barro jogado aos sopapos fecha as frestas, deixando o rendilhado dos bambus ou ramos aflorar traçando os desenhos de padrão muito próximo de uma postura construtivista (…)”. (PAPE, 2012, p.286).

Com a obra, o artista homenageia duas figuras importantes em sua trajetória: Maria Boaventura de Souza, sua avó materna, que viveu em uma casa de pau a pique no interior de Minas Gerais; e Maria de Fátima Boaventura de Souza Andrade, sua falecida tia, que em 1978 registrou a casa em fotografias. Esses mesmos registros levaram Honório a criar a presente fotomontagem, que foi a maior referência para a construção da obra.

 

Fotomontagem com fotografias originais de 1978 de Maria de Fátima Boaventura de Souza Andrade (1955-2004), 10,5 x 31 centímetros | Tratamento de imagem: Estúdio 321

 

Há uma inversão em tal vestimenta das paredes internas do corredor – que foi tomado como uma espécie de garganta e que se inicia no Auditório Lina Bo Bardi e dá acesso ao bebedouro, ao restaurante e à sala principal de exposições do Museu -, ao se trazer para a epiderme as entranhas, aquilo que presumivelmente não seria revelado e submetido ao reboco, acabamento e pintura”, explica o artista.

 

roçabarroca (2018/2020), instalação de Thiago Honório
Local Museu de Arte Moderna de São Paulo – saguão de entrada e Sala Milú Villela
Endereço Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Período até 15 de março de 2021
Horários terça à sexta, das 10h às 16h
Telefone (11) 5085-1300
Mais acesse a prévia da exposição no perfil do MAM no Google Arts & Culture

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Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx para abrigar obras da coleção.

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