Na última quinta-feira (13/8), teve sequência a série de debates preliminares da XIII Bienal Internacional de Arquitetura (XIII BIA) a partir do tema “Para que serve uma Bienal de Arquitetura?”, com realização pelo Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento de São Paulo (IAB-SP). Retransmitido aqui na plataforma da Revista PROJETO, o evento on-line trouxe preliminares a respeito do tema central da BIA 2021, ‘Reconstrução’, que também conta com a PROJETO como parceira oficial de mídia.
O evento revelou a essência de exposições de arte e de arquitetura da próxima edição da BIA de SP e instigou reflexões acerca do papel não só de arquitetos e urbanistas, mas também de tantos outros profissionais e cidadãos para alcançar cidades mais justas e democráticas. Segundo Sabrina Fontenele, Diretora de Cultura do IAB-SP: “A Bienal é um dos grandes projetos estruturantes do IAB. Nós entendemos esse evento como um momento de revisão, reflexão, possibilidades e investigação dos diversos campos, não só o arquitetônico. Buscamos diálogos mais amplos do que o nosso próprio setor profissional”.
A partir do eixo temático de discussão, o debate #2 instigou convidados e expectadores a pensarem sobre como, verdadeiramente, exposições de arquitetura pelo mundo assumem o papel de estimular reflexões e críticas diante do contexto de crise global. Em relação à própria BIA, Fernando Túlio, Presidente do IAB-SP, aponta: “Não é novidade dizer que vivemos em um momento de sobreposição de crises – relacionadas a saúde pública, recessões democráticas, economia, urbana, ambiental, climática – e, nesse contexto, o IAB vem, edição após edição [da Bienal de Arquitetura de São Paulo], compreendendo as estruturas que estão por trás dela e como podemos estabelecer mecanismos para transformá-las. A partir daí, colocamos em debate, inclusive nesse ciclo preparatório, o novo modelo”.
De acordo com o arquiteto José Mateus, presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa, este evento internacional – nascido em 2003 – inspira-se justamente nas edições brasileiras ao ser conduzido pela matriz ideológica e identitária de representar “um lugar de prospecção e produção de cultura e conhecimento, sendo, acima de tudo, um momento de partilha, encontro e confronto de ideias”. Para ele, encontros dessa natureza são uma “reunião de massa crítica”, onde se promovem amplos diálogos e convergências de conhecimentos.
Um exemplo bastante expressivo, que se relaciona ao apontamento de José Mateus, diz respeito à Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito (BAQ), representada no live da última quinta-feira pela arquiteta e presidente do evento, María Samaniego. Traçando brilhantemente o histórico de origem das bienais de arquitetura pelo mundo, María depara-se com reflexões mediante à pergunta chave do debate:
As bienais são um importante meio de investigação no setor (…), uma pausa, uma análise crítica do que estamos fazendo na atual situação da arquitetura e da cidade. Devem servir para compreendermos de que maneira estamos respondendo às questões da realidade – sejam elas sociais, tecnológicas, ambientais, econômicas, culturais, etc. (…)”.
Pormenorizando a fala de Samaniego, Paulo Tavares, arquiteto pesquisador e co-curador da Bienal de Arquitetura de Chicago 2019 (CAB), complementou ao expor, primeiramente, a obsolescência dos moldes desses eventos. Para ele, o histórico das exposições demonstra que, em sua maioria, a ideia tem sido “mapear a produção contemporânea (…) e, de alguma maneira, dar o estado da arte da arquitetura naquele momento – e isso em uma era, digamos, ‘pré-mídia’”. Entretanto, por mais que considere ultrapassado o tal modelo, o arquiteto entende ter sido “muito bem-sucedido e significativo até hoje”.
Baseando-se nessa perspectiva, a CAB 2019 – declarada atemática – foi profundamente elaborada em torno de processos investigativos e interdisciplinares, aplicados inclusive em diferentes cidades, para fundamentar-se em tais questões e tópicos globais e, dessa maneira, refletir os próprios conflitos de Chicago. Assim, de maneira um tanto controversa, a edição de 2019 resgata justamente o histórico da cidade-sede e prospecta, unicamente como reflexo, suas questões contemporâneas.
Ao finalizar o encontro, Sabrina Fontenele indagou os convidados acerca da função (e necessidade) das bienais de arquitetura angariarem para si públicos aquém nichos arquitetônico e urbano. De acordo com José Mateus, esse “é um desafio extraordinariamente complexo” e exige trabalho intenso para que sejam construídas pontes com aqueles não especializados – por exemplo, através de parcerias com instituições de múltiplas áreas:
O que nos interessa são as repercussões do diálogo que estamos estabelecendo e, para que ele seja produtivo, deve ir além da esfera dos arquitetos (…). Nós sempre trabalhamos com discursos que sejam, no mínimo, compreendidos por aqueles que não são especializados”.
Assista na íntegra ao debate #2
Debate 2 | Para que serve uma Bienal de Arquitetura? – O papel das exposições de arquitetura como possibilidade de estimular reflexões e críticas diante do contexto de crise global
Realização 13/8/2020, às 18h
Abertura Fernando Túlio Salva Rocha Franco (IAB SP)
Mediação Sabrina Fontenele (IAB SP)
Convidados José Mateus – Trienal de Lisboa; María Samaniego – Bienal Panamericana de Arquitectura de Quito; Paulo Tavares – Bienal de Chicago
Calendário
Debate 3 | Democracia e corpos nas cidades: Provocações da XIII Bienal de Arquitetura – garantir e estimular uso e legitimidades das práticas políticas nos espaços urbanos em um país que enfrenta a ameaça da recessão democrática
Realização 27/8/2020, às 19h
Abertura Gabriela de Matos (IAB SP)
Mediação Hannah Arcuschin Machado (IAB SP)
Convidados Marcos Nobre (CEBRAP/Unicamp); Tainá de Paula (IAB RJ); Christian Dunker (USP)
* acompanhe aqui na plataforma da Revista PROJETO
27/8/2020 | Lançamento da consulta pública ao edital do concurso de co-curadoria
15/9/2020 | Lançamento do concurso de co-curadoria
14/11/2020 | Divulgação do júri
23/2/2021 | Anúncio do resultado do concurso
5/2021 – 7/2022 | XIII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo