Na última quinta-feira (10/9), foi anunciada pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), uma série de medidas que tem por objetivo homenagear grandes nomes da comunidade negra que perpassaram a história brasileira. Covas, no plenário da Câmara Municipal, afirmou que o início das intervenções será através da implantação de uma estátua no Centro da capital paulista em memória a Joaquim Pinto de Oliveira (ou Tebas *), negro escravizado no século XVIII que, após alforria, contribuiu amplamente para a arquitetura da cidade.
A proposta é reflexo do abaixo-assinado conduzido por ativistas que reivindicaram a inserção de um monumento símbolo da comunidade negra na cidade após o furto da estátua “Diana, a Caçadora”, anteriormente implantada no Vale do Anhangabaú. Os peticionários alegaram a inserção da homenagem no mesmo local, entretanto, Covas ainda não estabeleceu em que ponto do Centro será instalada a nova estátua de Tebas.
Queremos mostrar que estamos aprendendo com os erros do passado, e que, a partir do exemplo de Tebas, reconhecemos o quanto a população negra já ajudou a construir esta cidade e este país, e o quanto nós devemos fazer para não ter ainda números vergonhosos, que mostram e comprovam a falta de oportunidades iguais entre brancos e negros no Brasil”, afirmou Covas perante os vereadores.
Mais recentemente, em 2018, o Sindicato dos Arquitetos do Estado de São Paulo (Sasp) homenageou formalmente Tebas, natural de Santos, baseando-se em documentos oficiais reunidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Sabe-se que o profissional, aos 58 anos, passou a aplicar sua habilidade em talhar blocos de rochas sobre construções de edifícios – como nas fachadas das igrejas da Ordem Terceira do Carmo e das Chagas do Seráfico Pai São Francisco, além da reforma completa da primeira torre original da Catedral da Sé e da construção do primeiro chafariz público da capital paulista, o Chafariz da Misericórdia.
A medida é acompanhada pelo Projeto de Lei estregue pela prefeitura para batizar os 12 novos CEUs da capital, previstos para entrega ainda neste ano, com nomes de outras importantes personalidades negras que figuraram a história do país. As sugestões são:
- Centro Educacional Unificado Artur Alvim para Centro Educacional Unificado Artur Alvim – Abdias do Nascimento;
- Centro Educacional Unificado Carrão para Centro Educacional Unificado Carrão – Carolina Maria de Jesus;
- Centro Educacional Unificado Cidade Tiradentes para Centro Educacional Unificado Cidade Tiradentes – Enedina Alves Marques;
- Centro Educacional Unificado Freguesia para Centro Educacional Unificado Freguesia – Esperança Garcia;
- Centro Educacional Unificado José Bonifácio para Centro Educacional Unificado José Bonifácio – Francisco José do Nascimento (Dragão do Mar)
- Centro Educacional Unificado Parque do Carmo para Centro Educacional Unificado Parque do Carmo – João Cândido (Almirante Negro);
- Centro Educacional Unificado Parque Novo Mundo para Centro Educacional Unificado Parque Novo Mundo – Leônidas da Silva;
- Centro Educacional Unificado Pinheirinho para Centro Educacional Unificado Pinheirinho – Luis Gama;
- Centro Educacional Unificado São Miguel para Centro Educacional Unificado São Miguel – Luiz Melodia;
- Centro Educacional Unificado Taipas para Centro Educacional Unificado Taipas – Profa. Maria Beatriz Nascimento;
- Centro Educacional Unificado Tremembé para Centro Educacional Unificado Tremembé – Maria Firmina dos Reis;
- Centro Educacional Unificado Vila Alpina para Centro Educacional Unificado Vila Alpina – Profa. Virginia Leone Bicudo.
Por último, foi publicado ainda na quinta-feira (10/9), no Diário Oficial da cidade, um decreto de Covas autorizando a desapropriação de uma área na Liberdade, no Centro de São Paulo, para a criação do Memorial dos Aflitos. O local, antigamente destinado ao recebimento de corpos dos escravos (o Cemitério dos Aflitos), localiza-se atrás da Capela de Nossa Senhora dos Aflitos, entre as vias Galvão Bueno e Rua dos Aflitos. A medida é continuação do processo de projeto do memorial que circula pelas autoridades municipais desde janeiro desse ano, mediante a descoberta de ossadas no local, e pretende a preservação do sítio arqueológico a fim de exaltar a presença e história negra no bairro da Liberdade durante o período escravocrata.
Na mesma leva de publicações oficiais, o prefeito lançou o decreto que prevê a Política Municipal de Combate ao Racismo Institucional como mais uma tentativa de apoio e combate às vítimas do racismo através de canal exclusivo de denúncia por meio da Secretaria de Direitos Humanos.
* Para conhecer mais sobre a história e a obra de Tebas, acesse o livro Tebas – Um negro arquiteto na São Paulo escravocrata, publicado pelo Instituto para o Desenho Avançado (IDEA) por meio de parceria de fomento com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo – departamento de São Paulo (CAU/SP).