“Topomorfose”, a pesquisa que estuda o desenvolvimento e crescimento da madeira e suas texturas e marca a trajetória da artista Heloisa Crocco, ganha novo capítulo: o projeto Casulo, que será instalado em Canela, na Serra Gaúcha.
A interferência, assinada em conjunto com a Perkins&Will, irá envelopar o tradicional Laje de Pedra, que se prepara para ser o primeiro hotel da rede de luxo Kempinski no Brasil. O projeto será uma das maiores intervenções artísticas contemporâneas do Rio Grande do Sul, de escala comparável à intervenção no Muro da Mauá, em Porto Alegre, com 400 metros de extensão.
O nome é literal e poético pois, assim como na natureza, Casulo será um induto até o (re)nascimento: “Por muitos anos a laje de pedra ficou escondida pela construção do hotel. Este foi o ponto de partida da ideia de ‘encasular’ o existente para, daqui três anos, revelar a transformação. Pensei em um material da região, muito familiar ao meu trabalho e que, quando retirado, será reaproveitado”, explica Heloisa.
A estrutura composta por cinco mil barrotes de pinus de reflorestamento sustentável – com sete metros de altura por 200 metros de comprimento – irá sobrepor painéis com obras de Heloisa Crocco impressas em lona fosca, envelopando o edifício existente. Com início em 1º de setembro, as obras de instalação devem encerrar-se no final deste mês de outubro.
A natureza, especialmente a madeira e o reaproveitamento, rege meu trabalho. Existe fusão entre as linguagens de arquitetura, arte, design e artesanato. Minha pesquisa é uma extensão da natureza aplicada a todas estas expressões. A integração entre as linguagens é um desdobramento natural”, define a artista.
O projeto Casulo coloca arquitetura, história, arte, tempo e natureza lado a lado ao imprimir todos esses elementos na madeira, um símbolo material para representar o desejo da rede Kempinski de criar lugares únicos com identidade local.
Nosso desejo sempre foi marcar a transformação do Laje com uma intervenção artística de grandeza proporcional, assim ele renasce como arte e cultura”, celebra Márcio Carvalho, um dos sócios da LDP Canela S/A, proprietária do futuro Kempinski Laje de Pedra.
Ainda, concluídas as obras de renovação e expansão do hotel, igualmente assinadas pela Perkins&Will, o material envoltório será reaproveitado em suas áreas internas. Para isso, a artista e o empreendimento irão envolver estudantes de escolas públicas e universidades locais, a fim de transformar os elementos brutos da natureza em novos objetos artísticos e decorativos para o interior do hotel. “Reaproveitar e reutilizar é a nova ordem, e o que vejo de mais lindo neste caso é que, através deste projeto, envolveremos a comunidade como em um grande laboratório”, vibra Heloisa.
Conforme descreveu o artista visual, curador e gestor cultural, André Venzon, a obra traz novos olhares e possibilita diferentes relações afetivas com o Laje de Pedra.
“Na série Topomorfose, Heloisa se dispõe a ir ao cerne das madeiras, tocar a alma das árvores e evidenciar uma estética que expresse as formas eternas. A passagem do tempo, percebida nos anéis das árvores, que funcionam como relógio das estações, é semelhante a uma trama que desenha a duração de nossa realidade. Não há disputa entre arte e arquitetura, há apenas correlação, reciprocidade, mutualidade entre forma e composição. Com isso, repleto de fatos históricos e elementos substanciais, o passado do hotel fica agora envolto por um véu contemporâneo que nunca deixou de estar presente em uma natureza dinâmica e inventiva”, explica.
Casulo será o portal de acesso ao Mirante do Laje, espaço de encontro da gastronomia, arte e cultura, onde irá operar o recém anunciado restaurante 1835, parceria entre o grupo 20BARRA9 e o Toro Gramado, e, ainda, o Bar do Laje.
A intervenção temporária é uma criação de Heloisa Crocco, em conjunto com a Perkins&Will, e tem projeto arquitetônico e detalhamento de fachada da arquiteta Daniela Jacques e do escritório Divisão de Efêmeros.
Heloisa Crocco é uma das mais reconhecidas e premiadas artistas visuais brasileiras. Licenciada em Desenho pela UFRGS, já participou de inúmeras exposições coletivas, salões e bienais na Europa e nas Américas. Seu principal trabalho é a Topomorfose, pesquisa que desenvolve há mais de 40 anos estudando o desdobramento da madeira e suas aplicações em diferentes suportes explorando suas texturas.