FIAC 2020 enaltece atuação feminina na arquitetura. Confira!

O Dia do Arquiteto, parte da programação da Expo Revestir, contou com a presença de Marta Moreira, Mila Strauss, Lua Nitsche e Maki Onishi em apresentações individuais, além de debate mediado por Elisabete França e Evelise Grunow


No debate: Marta Moreira, Evelise Grunow, Mila Strauss, Elisabete França, Lua Nitsche e Maki Onishi (Foto: Pepe Guimarães)

A 18ª edição do Fórum Internacional de Arquitetura e Construção aconteceu em 13 de março como parte integrante da programação da Expo Revestir, em São Paulo. Com curadoria da Revista PROJETO, o evento aberto ao público reuniu ilustres mulheres do setor arquitetônico para apresentarem selecionados trabalhos desenvolvidos pelos escritórios dos quais são sócias fundadoras, bem como para discutirem sobre questões relacionadas à equidade de gênero no exercício da profissão de arquitetura e urbanismo posteriormente em um debate conjunto.

“É um grande prazer estarmos mais uma vez à frente desse projeto, que já trouxe inúmeros profissionais de renome para este palco. Novamente temos aqui um time respeitável de palestrantes (…). Hoje, comemorando 18 anos desse Fórum, queríamos algo diferente, então pensamos: 65% dos profissionais de arquitetura brasileira são mulheres. Quase 80% dos estudantes de graduação da área são mulheres. Estamos na Semana Internacional de Defesa dos Direitos da Mulher. A partir disso estava formado nosso programa. Para construir esse projeto chamamos o que consideramos um retrato fiel das principais profissionais do Brasil e também internacional”, contou Fernando Mungioli, Publisher da Revista PROJETO.

Iniciando as palestras, Mila Strauss apresentou projetos marcantes para a história do MM18 Arquitetura. Dentre eles, foram retratados Maison SAAD, casa noturna Tókio, revitalização do Mirante 9 de Julho e Bar dos Arcos, todos em São Paulo. Para concluir, a arquiteta ainda trouxe o projeto futuro de revitalização do cais do Valongo, em Santos.

Em continuação, Marta Moreira, do MMBB Arquitetura e Urbanismo, apresentou o Sesc 24 de Maio em suas minúcias – desde a fase de implantação até a elaboração dos mobiliários -, concebido em parceria com Paulo Mendes da Rocha, bem como o projeto do Pavilhão do Brasil para a Expo Dubai 2020. Na sequência, Lua Nitsche retratou algumas das casas produzidas pelo Nitsche Arquitetos Associados e também dois movimentos atuais dos quais participa ativamente: o Amigos da Praça Vila Buarque, uma iniciativa da plataforma Praças.co, e a ocupação 9 de Julho, ambos na capital paulista.

Por último, a arquiteta japonesa Maki Onishi contou sobre a forma de atuação de seu escritório. Juntamente a Yuki Hyakuda, também fundador do estúdio que leva seus sobrenomes, projetam sempre com a intenção de integrar ao tecido urbano e estar aberto às ruas. Além disso, a transitoriedade do espaço também é premissa para concepção dos projetos, com o intuito de sempre oferecer oportunidades de escolha aos usuários para que percorram e estejam nos ambientes da forma que lhes for aprazível.

O debate subsequente, mediado pela convidada Elisabete França e Evelise Grunow, editora executiva da Revista PROJETO, interagiu com as arquitetas a partir de perguntas a respeito de seus pontos de vista sobre a prática profissional da mulher na arquitetura e no urbanismo.

Bete França começou pelos desafios de conciliar vida profissional e pessoal, assunto geralmente atrelado à famosa “dupla jornada” feminina. “Eu vejo uma questão muito prática que acontece no dia a dia. Nós temos escritório, somos empresárias, cuidamos de projetos, RH, financeiro, compras, etc. e, quando acaba o dia, temos todo o trabalho da casa também. Por isso, enquanto os homens não compartilharem dessa responsabilidade, as mulheres vão sempre estar numa sobrecarga. Acho ainda que somos uma geração ‘divisora de águas’ quanto a ter essa dupla função”, depôs Mila Strauss.

Evelise Grunow questionou sobre as diferenças de condição de tratamento dadas por clientes, fornecedores e demais profissionais que lidam tanto com os sócios quanto com as sócias dos escritórios: “Independente do momento, tem uma dificuldade latente. Às vezes numa reunião em que estamos com nossos sócios, o cliente não te ouve, pergunta apenas para o homem, etc. Por isso, eu fui adotando uma característica agressiva, bastante ligada ao masculino (…). Acho que temos de lutar pela igualdade, mas ao mesmo tempo preservar algumas diferenças”, explicou Lua Nitsche. Na mesma linha de raciocínio, Maki Onishi complementou: “Não preciso ser igual aos homens, preciso apenas impor minha presença”.

Ainda, Bete França contou sobre como é ser mulher no poder público: “Não é fácil. Eu gostaria de chegar no século XXI com igualdade de gênero, mas não vejo isso acontecer, apesar do discurso. No setor público, em geral, as mulheres são quase desconhecidas. A coisa boa da nossa participação no serviço público é sermos mais pacientes, pelo menos eu percebo assim. Nós entendemos as questões da cidade de uma outra forma. Para ilustrar, um dado super-relevante sobre os acidentes de trânsito na cidade de São Paulo: de mil mortes por ano, apenas 2% estão sob responsabilidade das mulheres. Dá para tirar uma base, não?”.

Para finalizar, foi colocado em questão o futuro exercício da profissão, diante de tantos percalços, por até então estudantes de Arquitetura e Urbanismo. Marta Moreira, que também é professora na Escola da Cidade, disse: “Temos cada vez mais mulheres frequentando o curso, na verdade, hoje, já representam a maioria. Essa geração vem com outro olhar, briga por espaço e representatividade”.