Escritório aposta em modelo de negócio com impacto social

A cada projeto residencial ou comercial desenvolvido pelo escritório "Rua 141", outro é realizado em parceria com ONGs para melhoraria das condições de habitação de famílias carentes


Projeto de autoria do escritório Rua 141 e execução do Moradigna, em Cachoeirinha (Foto: Nathalie Artaxo)

Ao idealizar o Rua 141, a arquiteta e urbanista Mona Singal pensou em criar um escritório cujo modelo de negócio teria a responsabilidade social como principal conexão à sua atuação profissional.

Tendo a rua como elemento de conexão das cidades, configurando uma rede composta por escalas e identidades distintas – além de ser palco de encontros entre pessoas e trocas culturais – o nome do escritório já reflete a tal relação com esse organismo vivo e retrata o modelo de negócio do escritório: one-for-one (141). Ou seja, para cada projeto comercial ou residencial para o qual o escritório é contratado, desenvolve-se outro sob parceria com ONGs ou instituições parceiras em comunidades carentes.

Na entrevista a seguir, Mona Singal conta sobre sua intenção como arquiteta e urbanista, as formas de viabilização do programa e os detalhes das reformas concebidas em parcerias.

Entrevista

O que motivou a equipe do escritório a nascer com esse ideal?
Sempre tive uma inquietação em relação à minha responsabilidade como arquiteta. Isso foi aguçado ainda na faculdade quando tínhamos as matérias de planejamento urbano, estudávamos as comunidades carentes e víamos as condições insalubres que as pessoas moravam. Acredito que os arquitetos podem sair na frente e propor ações de responsabilidade social a partir dos seus conhecimentos.

Desde quando exercem essa ação e quantas construções já conseguiram viabilizar?
O modelo de gestão do escritório baseou-se no modelo de negócios existente one-for-one, só que implementado para a área de serviço. Para cada projeto que somos contratados, realizamos uma intervenção em uma comunidade carente, sempre junto a uma ONG ou instituição parceira que já atua em cada região. Por isso o nome “Rua 141”: rua por ser um elemento urbano de conexão de lugares e culturas distintas e 141 (one-for-one) pelo modelo de negócios.

A primeira ação que realizamos foi em 2018 e já fizemos mais de 20 ações, que vão de reforma de um cômodo até a reforma total da casa, em diferentes localizações, como Capão Redondo e Vila Nova Cachoeirinha, por exemplo. Atualmente, um dos projetos em andamento é a reforma de um abrigo destinado a crianças carentes. Não fazemos uma “maquiagem” no local, mas buscamos atuar principalmente na resolução de questões de insalubridade que a maioria dos espaços apresenta; falta de ventilação e iluminação natural, claro, são dos grandes problemas. Com o projeto desenvolvido, a melhoria da qualidade de vida das pessoas é notória.

Como são viabilizadas as construções das moradias?
Não fazemos trabalho voluntário e nem somos uma instituição filantrópica. Visamos lucro, porém atrelamos essa frente de moradia social ao custo de projeto do escritório para clientes particulares. Operamos da seguinte forma: quando os clientes nos contratam para fazer um projeto residencial ou comercial, parte do valor é revertido em horas de trabalho para desenvolver os projetos nas comunidades carentes, sempre associado a uma ONG ou a uma instituição que já atua na comunidade. Essas instituições têm a mão de obra de execução, mas muitas vezes não têm o conhecimento técnico para o projeto. É nesse momento que entramos.

As ONGs e Instituições parceiras têm algumas formas de viabilizar esses projetos através do apoio dos investidores ou algumas vezes o próprio morador paga a reforma parcelando em várias vezes. Fazemos as reformas conforme a demanda. Neste período, já realizamos parcerias com a Instituição Moradigna, a ONG Décor Social e o Instituição Vivenda.

O que está englobado nas reformas das habitações?
A dinâmica passa por ir até o local da reforma e lá fazemos a primeira visita com o morador para entender as necessidades. Depois desenvolvemos o projeto técnico (plantas e detalhamentos de hidráulica, elétrica, civil, acabamentos, forro, iluminação) e, na sequência, a obra começa e a instituição responsável executa. Dependendo da obra especificamos até mobiliário e eletrodomésticos.