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Equipe brasileira se destaca no Toronto Affordable Housing Challenge

O grupo inteiramente feminino conquistou terceiro lugar no concurso internacional, que é parte das iniciativas da organização Bee Breeders em busca de soluções arquitetônicas para a crise habitacional em várias cidades do globo

O Toronto Affordable Housing Challenge faz parte da série de competições da Bee Breeders Affordable Housing, realizado em parceria com o Archhive Books, e estimula a pensar projetos inovadores que enfrentem a crise de habitação mundial. A edição mostrou que não existe uma única resposta para tornar acessível a moradia, já que foram diversas as soluções apresentadas pelas equipes participantes – dentre elas, a única brasileira e sul-americana que se destaca em terceiro lugar, composta pelas arquitetas e urbanistas Ana Luisa Rolim, Isabella Trindade, Beatriz Bueno, e a graduanda no curso, Larissa Falavigna.

 

Toronto está entre os dez maiores mercados imobiliários mais caros do mundo. Soluções inteligentes e viáveis ​​precisam ser implementadas, por isso a Bee Breeders questiona: ‘Qual papel podem desempenhar arquitetos e designers para a solução de tal problemática?’”, indagou a mote do certame.

 

Neste sentido, a equipe brasileira propôs o ‘MORANDO EM LANEWAYS: Pequenas Vilas no Coração da Malha Urbana de Toronto’, que correspondeu diretamente com as premissas do concurso, ao ser um projeto flexível, com acomodações variadas ao público e conceitualmente sustentável a moradias populares capazes de serem executadas em Toronto, aumentando a oferta de habitação na cidade.

“O júri elegeu as propostas que se adaptaram de forma inteligente à infraestrutura [de Toronto], consideraram a coesão da comunidade e ofereceram uma gama de soluções sustentáveis ​​e inovadoras (…) A ‘MORANDO EM LANEWAYS’ imagina uma densificação saudável, oferecendo outro aspecto aos nossos quarteirões. A possibilidade de expansão vertical e lateral para as necessidades da família é um argumento convincente para repensar a habitação como um bem fluido. O desenvolvimento posterior do projeto pode examinar as necessidades da comunidade, como espaço verde integrado e segurança””, declarou o parecer do júri interdisciplinar regional e internacional.

Em analogia ao processo de acupuntura, a proposta brasileira de habitação social para a cidade canadense parte de uma visão macro e atua, pontualmente, na escala do bairro. É escolhido como sítio prototípico a laneway, uma tipologia urbana do final do século XIX, comum em Toronto, que possui 2.433 unidades deste tipo de via pública. Estreitas e compridas, as laneways são margeadas por lotes com uma casa principal, voltada a uma via de maior porte, e, na parte posterior, um pequeno volume, sem caráter arquitetônico relevante – normalmente garagens ou depósitos. Sabe-se que o uso e fisionomia destes componentes reforça o aspecto de via de serviço das laneways.

 

 

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Propomos substituir essas estruturas por unidades habitacionais de baixo custo, reconhecendo as laneways como oportunidades de solo e infraestrutura existentes, que poderiam reduzir a expansão urbana e contribuir para a sustentabilidade ambiental e uma atmosfera pública mais vibrante. Diferente de complexos habitacionais tradicionais, essa iniciativa implicaria em obras de menor porte e menor custo de infraestrutura urbana, reforçando o crescimento gradual na escala do bairro”, discorre a equipe.

 

Dessa maneira, cada unidade teria uma área inicial de 58 metros quadrados, com dois pavimentos dispostos em: térreo com acesso, pátio público coberto e depósito de lixo; subsolo com espaço flexível, pátio aberto e infraestrutura; piso superior com cozinha, estar, jantar e varanda, coberta com horta e painéis fotovoltaicos. A unidade poderia ser incrementada com extensões laterais e verticais, permitindo um quarto adicional. Acessível pela rua, o subsolo poderia funcionar de forma independente como um home office.

 

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O conceito de habitação incremental adotado permitiria o ajuste a diferentes tipos de famílias e suas mudanças graduais, com dois tipos de unidade que poderiam expandir a planta base lateralmente (5 x 5 metros), adaptando-se a diferentes larguras de lotes, ou verticalmente no local de hortas dos telhados. Neste último caso, os usuários acessariam as hortas compartilhadas por aberturas laterais intralotes, ou passarelas suspensas sobre a laneway, que conectam as habitações.

A sustentabilidade é implantada desde o sistema estrutural ao consumo de energia e água – a estrutura é em madeira laminada colada (CLT), um material renovável que gera poucos resíduos de construção. Cada unidade possui quatro painéis fotovoltaicos na cobertura e uma cisterna no subsolo para armazenamento de água pluvial, tratada para águas cinzas ou rega.

Com exceção da torre de áreas molhadas, as plantas baixas são livres, com fechamentos em vidro triplo e escada sob claraboia retrátil, favorecendo a iluminação passiva e a ventilação cruzada, importante também aos cenários pandêmicos. O revestimento externo, em madeira carbonizada, por ser resistente a condições climáticas extremas e pragas, demandaria pouca manutenção, além de ser fabricado por um processo livre de óleos tóxicos.

 

 

Nossa proposta inclui o redesenho da via, que, em resposta ao não alinhamento dos lotes limítrofes, traz desenhos transversais não paralelos, configurando divisões verdes entre os lotes, em vez de barreiras físicas. Prevendo um recuo frontal de 1,5 metro para vegetação, o desenho também ajuda a reduzir a proporção alongada das laneways, marcando os acessos às unidades e ao pátio público coberto”, finalizou a equipe.

 

Além do caráter sustentável das unidades habitacionais e do traçado viário, a rede de hortas nas coberturas geraria uma pequena fazenda urbana. Estes recursos, juntos, poderiam melhorar a filtragem do ar, resfriar as temperaturas no verão e fornecer alimentos mais saudáveis.

 

Ana Luisa Rolim é arquiteta e educadora com experiência em atuação no Brasil e nos Estados Unidos. É professora titular da escola de Arquitetura e Urbanismo da Unicap ICAM-TECH, Brasil. Dirige coletivo-rt architecture + interiors, prática coletiva sediada em Recife (Brasil) e Brooklyn (EUA) que busca reforçar o papel da mulher no design, com foco em projetos residenciais, de trabalho e comerciais. Como extensão da sua prática, o coletivo-rt também tem participado em vários concursos de arquitetura.

Isabella Trindade é arquiteta, designer de interiores e educadora que morou e trabalhou em Recife (Brasil), Paris e Bordeaux (França), Barcelona (Espanha) e Toronto (Canadá). Ao longo de sua carreira, Trindade combinou sua prática acadêmica e profissional. Possui vasta experiência em arquitetura e design de interiores, tendo executado uma série de projetos, incluindo participações e premiações em concursos nacionais e internacionais. Atualmente, Trindade é instrutor da Ryerson School of Interior Design em Toronto, Canadá.

Beatriz Bueno graduou-se recentemente pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) com bacharelado em Arquitetura e Urbanismo.

Larissa Falavigna é formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e tem participado de forma constante de concursos de design na equipe do coletivo-rt.

 

Saiba mais

www.architecturecompetitions.com