(Imagem: cortesia Stefano Boeri Architetti)

Entenda o projeto do bairro preparado para pandemias e emergências climáticas

O cenário pandêmico acentua as iminentes adaptações urbanas necessárias para o desenvolvimento da sociedade nos momentos presente e futuro

O estúdio do arquiteto italiano Stefano Boeri, em parceria com o escritório de arquitetura SON Group, desenvolveu o projeto de um distrito que atenta para as mudanças mundiais após a pandemia ocasionada pelo COVID-19. Intitulado Tirana Riverside, em Tirana (capital da Albânia), o tal distrito poderá abrigar 12 mil residentes em uma área próxima a um afluente da cidade.

O bairro tem, no total, 29 hectares e comporta diversas tecnologias compatíveis com conceitos de uma cidade inteligente, incorporando alguns requisitos de saúde necessários para enfrentar possíveis pandemias e situações emergenciais desse gênero.

Os edifícios residenciais, por exemplo, foram pensados como espaços nos quais os moradores tenham a possibilidade de estarem isolados, quando preciso, sem necessariamente permanecerem afastados da exuberância verde e da comunidade ao redor. Por isso, uma variedade de espaços verdes e coletivos configuram generosas áreas de estar e convivência que dispensam situações de aglomeração.

Definido por Boeri como um bairro policêntrico, o projeto sugere a distribuição dos principais serviços públicos em torno de três núcleos, todos à uma distância favorável ao percurso a pé. Ao longo de um eixo verde, ladeado pelo rio Tirana, a área de regeneração urbana tem uma proposta de mobilidade que incentiva a circulação de pedestres e ciclistas, integrando as áreas comerciais e residenciais com quadras esportivas e espaços de lazer públicos. Ainda, foram inclusos prédios administrativos, uma escola e um centro universitário.

O distrito resgata, portanto, valores comunitários que incentivem convívio, trocas e contato com a natureza. Ao mesmo tempo, emprega conceitos de sustentabilidade aplicados em esferas tecnológicas e econômicas – com o uso de telhados verdes, painéis solares e captação da água pluvial, por exemplo, ou a prática de agricultura e agroecologia urbana, incentivando a reativação da economia de pequenas e médias empresas albanesas. Tudo regido por um plano diretor estratégico próprio.

Outro destaque é o aproveitamento do rio Tirana para criação de biomas adequados para vivência de espécies silvestres não-domésticas. A área tem capacidade para abrigar 12 mil plantas, variadas em cem espécies nativas, que habitarão os 15 hectares de superfícies verdes.

Com relação aos sistemas construtivos, estruturas pré-fabricadas em madeira são frequentemente especificadas para garantir rapidez na construção. Além disso, em todo tempo existe o monitoramento dos níveis de desmatamento e reflorestamento, produção sustentável e redução de resíduos.

 

 

A relação homem-natureza de Stefano Boeri

As “pessoas precisam viver perto das árvores”, afirma Boeri, arquiteto urbanista e professor do Politécnico de Milão, em entrevista exclusiva pela HAUS no Fuorisalone.it da Semana de Design de Milão. O profissional complementa: “Não somos simplesmente vítimas, mas somos uma das razões das pandemias. Se não cuidarmos da complexidade da natureza, não entenderemos que o equilíbrio entre diferentes espécies é o melhor caminho para evitar que o vírus [se espalhe] (…). A complexidade da biodiversidade é a melhor defesa. Temos que redefinir nossa relação com a natureza”.

Não é recente o olhar de Boeri para as questões que envolvem a convivência harmoniosa da natureza em meio ao caos das cidades, isto é, além do Tirana Riverside, ele também é autor do premiado edifício residencial Bosco Verticale (Bosque Vertical), em Milão – hoje em dia referência mundial por suas estratégias de sustentabilidade e exuberante massa verde da fachada -, bem como da primeira cidade eco-inteligente do mundo – prevista para 2026, a Smart Forest City está a 100 quilômetros de Cancún (México) e terá 577 hectares, dos quais 400 são destinados a parques.

Hoje, Boeri é o atual presidente da Trienal de Milão e está à frente do projeto Superverdes, um conceito modular capaz de inserir grandes maciços vegetais ou miniflorestas horizontais em espaços públicos e assim promover descanso, encontros e contemplação. Vale dizer que, entre janeiro e junho de 2012, foi também o curador do ‘São Paulo Calling’, um encontro promovido pela Secretaria Municipal de Habitação da Prefeitura de São Paulo que tratou de assentamentos informais em diversas partes do mundo.