Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído

A nova norma de desempenho NBR 15.575, que deve entrar em vigor no dia 19 de julho próximo, foi um dos temas discutidos durante o seminário promovido pela Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica), no Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído.

A fim de chamar a atenção para o Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído (Inad, sigla em inglês do International Noise Awareness Day), um seminário ocorrido em abril reuniu especialistas e autoridades em acústica para discutir propostas e ações com o objetivo de reduzir a poluição sonora nas cidades.

“Tratamento acústico não é item de luxo, nem deve ser caro. Saúde acústica é um direito de todos”, lembrou, na abertura do evento, Davi Akkerman, presidente da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica) e sócio diretor da Harmonia Acústica.

Durante o painel Acústica em Edificações, o engenheiro Carlos Borges, relator da NBR 15.575 (Edificações habitacionais – Desempenho) na ABNT e vice-presidente de tecnologia do Secovi/SP, analisou o impacto da publicação da norma sobre o setor imobiliário. “O ruído externo ao empreendimento passará a ser associado à engenharia. Nós, construtores, teremos a obrigação de assumir essa responsabilidade”, afirmou.

A nova norma, que deve entrar em vigor no dia 19 de julho de 2013, traz um capítulo exclusivo sobre acústica, contemplando três classes de desempenho (mínimo, intermediário e superior), além de níveis máximos de pressão sonora aceitáveis, gerados por equipamentos motores e instalações hidrossanitárias. Os usuários terão acesso a essas informações e poderão reclamar quando constatarem problemas em suas habitações.

“O maior beneficiário será o consumidor final. Vale lembrar que todos nós somos consumidores, portanto precisamos ter grandeza de visão sobre o assunto”, lembrou Borges.

Segundo o engenheiro, uma das maiores expectativas do setor é que a NBR 15.575 induza avanços tecnológicos e o aumento da qualidade das construções brasileiras, “mas para isso é importante que as empresas invistam na qualidade do projeto e em planejamento”. A classificação permitida para índices de ruídos externos ao empreendimento também pode estimular a criação de uma metodologia de mapeamento sonoro das cidades brasileiras.

A ferramenta – já utilizada nas cidades europeias com mais de 200 mil habitantes e em algumas capitais da América do Sul, como Santiago (Chile) e Bogotá (Colômbia) – ainda é incipiente no Brasil. Apenas Fortaleza desenvolve um trabalho nesse sentido.

Um dos desafios do setor, no entanto, será esclarecer para a sociedade as diferenças conceituais entre conforto ambiental e desempenho acústico. De acordo com o engenheiro Fúlvio Vitorino, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), conforto acústico trata do balanceamento correto do campo sonoro e da homogeneidade do ruído dentro dos ambientes. “Essas questões não são tratadas pela NBR 15.575, que orienta apenas sobre o isolamento do ambiente interno”, ele explicou.

Segundo estimativas, 6% da população brasileira tem hipersensibilidade aos ruídos. Esses consumidores não serão necessariamente beneficiados com o cumprimento da norma. “O importante é que estamos calçando um nível de desempenho acústico. Ainda que não chegue nem perto dos países desenvolvidos, é o começo de um caminho. A nova norma descreve com clareza os resultados dos sistemas e como mensurá-los, podendo contribuir para a melhoria da construção civil como um todo”, observou Borges.

MÉTODOS DE ENSAIO
Vitorino aproveitou a oportunidade para apresentar as principais metodologias que serão aplicadas em testes e ensaios de acústica. “Em laboratórios, as medições são realizadas com uma parede entre duas câmaras, uma de emissão e outra de recepção. Parece simples, mas é preciso desacoplar acusticamente a parede das duas câmaras”, explicou.

Ele lembrou que, diferentes da medição em campo, os ensaios em laboratório isolam o componente do som externo do edifício. “Essencialmente, eles atendem muito bem aos fabricantes de componentes, enquanto aqueles realizados em campo podem fornecer ao consumidor dados sobre o produto que estará disponível para compra.”

No método de campo, Vitorino observou ainda as diferenças entre os procedimentos simplificados e os de engenharia. “Deve-se optar preferencialmente pelos segundos, que fornecem dados mais precisos, enquanto os simplificados oferecem apenas estimativas”, ele completou. Em exemplo citado, de ensaios de som em dormitórios, a diferença de resultados chegou a três decibéis. “O método simplificado superestima o desempenho, podendo mascarar dados”, explicou.

ENTRAVES
Durante o evento, participantes manifestaram preocupações do setor quanto ao cumprimento e à fiscalização da NBR 15.575. “A norma não é lei, mas tem peso de lei, e o seu descumprimento pode trazer implicações criminais aos responsáveis”, observou Borges. “Os usuários serão os fiscais”, acrescentou Akkerman.

A falta de mão de obra especializada para realizar ensaios e analisar dados e a pequena rede de laboratórios disponíveis no Brasil também são obstáculos que podem refrear a sua aplicação. Segundo Vitorino, os investimentos para capacitar laboratórios a fazer testes de acústica são altos e há poucas empresas acreditadas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para realizar essa tarefa.

A situação é mais crítica fora do estado de São Paulo. “Atualmente, a Financiadora de Estudos e Projetos, a Finep, está capacitando cinco laboratórios públicos, um em cada região do país, para atender a essa demanda”, contou o pesquisador.

O QUE É O INAD:
O Dia Internacional da Conscientização sobre o Ruído (Inad) foi criado há 17 anos, nos Estados Unidos, pela League for the Hard of Hearing, hoje Center for Hearing and Communication. O objetivo da iniciativa é promover o evento mundial de conscientização, que consiste em manter 60 segundos de silêncio, a fim de demonstrar o impacto do ruído na vida cotidiana.