No Lousiana Museum of Modern Art, na Dinamarca, está em cartaz a mostra Cave_Bureau, sobre o trabalho do assim denominado estúdio de arquitetura de Nairobi, no Quênia. “Somos um estúdio de arquitetos e pesquisadores (…) explorando a arquitetura e o urbanismo dentro da natureza. Nosso trabalho aborda o contexto geológico e antropológico da cidade africana pós-colonial a fim de confrontar os desafios das nossas vidas urbanas e rurais”, é como se apresenta o grupo no seu website [https://www.cave.co.ke/about-us]. Cave Bureu foi fundado em 2014 por Stella Mutegi e Kabage Karanja.
A mostra fecha o ciclo The Architects Studio, com seis exibições de arquitetura dentro do museu: Forensic Architecture (2022), Anupama Kundoo (2021), Tatiana Bilbao (2019), Elemental – Alejandro Aravena (2018) e Wang Shu – Amateur Architecture Studio (2017) e, agora, Cave Bureau.
Acompanhamos a abertura da exposição, em 2 de julho, a convite do Obel Award, A mesa redonda de inauguração da mostra fez parte da séria Obel Award Talks que, por sua vez, integrou a programação do UIA2023 Copenhagen, realizado de 2 a 6 de julho.
Na conversa com a PROJETO, Mette Marie Kallehauge (curadora da mostra junto com Kjeld Kjeldsen, ambos da equipe curatorial do Lousiana), fala sobre a escolha do estúdio queniano para fechar o ciclo inicial de exposições de arquitetura no museu, sob a bandeira The Architects Studio. Para ela, o trabalho com o Forensic Architecture havia aberto “o caminho da arquitetura para além do seu campo de atuação. O caminho em direção a arquitetos e estúdios que trabalham com as verdadeiras bases da arquitetura, e isso nos trouxe ao Cave Bureau. Com isso [o conjunto das seis exposições] estabelecemos um campo geral para o futuro”.
Kallehauge mencionou ainda a importância de incluir a África no panorama das mostras que, antes no museu, teve como pano de fundo a China, o México, a India, o Chile e a Europa.
Sobre o processo curatorial, a curadora e a dupla de arquitetos disseram: “É sempre uma colaboração com os estúdios. Queremos que eles falem”. Ao que Kabage Karanja, acrescentou: “Tudo estava na mesa, não apenas o modo de apresentar mas sobretudo o conteúdo da mostra. Foi um casamento perfeito entre o Antropocene Museum e o Lousiana Museum”. “Aprendemos muito, todos”, finaliza Kallehauge a conversa.
Convidados a olharem em retrospectiva as suas pesquisas de campo dentro do projeto Antropocene Museum e, assim, contextualizarem a mostra no momento atual do Cave Bureu, Stella Mutegi falou sobre a iminência do museu ter a sua sede. “Percorremos o mundo, até voltarmos ao [Monte] Sosua”.
O que tem a falar ao mundo, o Antropocene Museum? Stella Mutegi dá exemplos: “[Será] uma casa para abrigar uma série de questões que estamos falando com o Antropocene Museu, confrontando colonialismo, mudança climática e pensando sobre o futuro, da Terra.
Como as comunidades percebem a urgência dessa situação? “As pessoas vivem isso, todos os dias. Você prepara a sua terra, mas as chuvas não caem” (Stella Mutegi).
Sobre o engajamento dos arquitetos com as comunidades: “De onde viemos, aprendemos que a maior parte das soluções [de adaptação ao clima] já foram propostas. Nós não inventamos isso, mas estamos usando, amplificando, melhorando, esse conhecimento sobre a adaptação. O papel da arquitetura está sendo reformulado” (Kabage Karanja).
Estão felizes com essa mostra? Imaginem a resposta: “extremamente honrados, e felizes” (Stella Mutegi).