Bodybuilding: mostra digital reúne performances criadas por arquitetos

Método criativo, meio de interação com o usuário ou instrumento crítico? Qual o papel da performance no campo da arquitetura? Tais são os exemplos de questionamentos subjacentes ao evento

Em Osaka, em 1970, enquanto Paulo Mendes da Rocha apresentava ao mundo o seu pavilhão de concreto, o japonês Arata Isozaki, comissionado por Kenzo Tange, mentor do masterplan da Osaka Expo’70, divertia a audiência com a sua dupla de robôs-edifícios que se movia em resposta à informações colhidas no meio ambiente e emanava sons, fumaça e cheiros para entreter a plateia. Em 2013, o arquiteto espanhol Daniel Fernández Pascual – um dos três finalistas do Prêmio Wheelright 2020, ao lado de Gustavo Utrabo e Bryony Roberts – criou, em sociedade com Alon Schwabe, a plataforma Cooking Sections, cuja proposta é investigar, por meio de instalações, performances, mapeamentos digitais e videos, a organização do mundo a partir do tema da alimentação, da micro à macro escala. O que tais acontecimentos, distantes mais de 40 anos no tempo, têm em comum? Ambos são performances realizadas por arquitetos. 

Este é o assunto abordado pela Bodybuilding, mostra digital lançada em 15 de maio na seção Radical Broadcast da Performa, uma organização norte-americana dedicada, como elucida o próprio nome, ao tema da performance nas artes. Durante um mês, até 15 de junho, serão exibidos ininterruptamente no performa-arts.org, videos e filmagens de performances do século 20 e atuais. Ao acessar o site, o expectador é intuitivamente convidado a clicar no video em exibição no topo da página e, em seguida, no círculo amarelo que funciona como um link para a programação diária. Nela, estão listados, hora a hora, os trabalhos em exibição, acompanhados por breves descritivos dos mesmos.

Enquanto essa nota era redigida, por exemplo, passava-se do Il Teatro del Mondo, filmagem de 1979/1980 a respeito do teatro flutuante projetado por Aldo Rossi para a Bienal de Veneza, para a inquietante Habitat for Two People, instalação audiovisual criada em 1972 pelo italiano Gaetano Pesce para o Museu de Arte Moderna de Nova York no contexto da mostra Italy: The New Domestic Landscape, assinada por Emilio Ambasz. Mudo, Il Teatro del Mondo mostra em 30 minutos e 32 segundos a evolução da embarcação de Rossi pela laguna de Veneza até a sua entrada no Mar Adriático, com imagens captadas por Christopher Stead – o filme pertencente à Fundação Aldo Rossi © Eredi Aldo Rossi. Já nos 6 minutos e 18 segundos da Habitat for Two People, um casal de supostos remanescentes de uma cidade – fracassada – do futuro se move por entre os remanescentes subterrâneos da sua existência.

A questão central de Bodybuilding, dedicada ao recém-falecido crítico de arte Germano Celant (1940-2020) é: “O que acontece quando a performance entra no mundo da arquitetura?”, informam os organizadores. A mostra digital é apoiada pelo Fundo de Resposta e Impacto COVID-19 da New York Community Trust e por fundos públicos do Departamento de Assuntos Culturais da cidade de Nova York, em parceria com o Conselho da Cidade.