O anual fórum de criatividade da Portobello é mais uma vez palco de grandes nomes multidisciplinares. Ocorrido durante a tarde da última terça-feira, 5 de setembro, no Teatro Santander (SP), o evento esteve de casa cheia e recebeu um grupo de convidados que, em suma, demonstrou as maneiras como se expressam suas essências nas carreiras profissionais, convidando o público a voltar olhares ao próprio interior e reconhecer a força da expressão conjunta em sociedade.
Segundo o tema “O que está importa”, o convite da edição é ao redescobrimento de expressões representativas, de histórias pessoais e conjuntas, que têm o poder de projetarem o diálogo entre individualidade e comunidade, e definir o particular e o comum, assim como seus espaços de interação:
Bastidores revelam a alma do projeto. Acreditamos no potencial do ambiente para acolher atitudes e intenções. Mais do que se vê, aquilo que é, a essência. Autenticidade importa”, descreve a chamada do evento.
O sucesso do Archtrends Summit, desde 2018, também garantiu pela primeira vez a abertura ao público e contou com mais de mil espectadores presentes – além daqueles que acompanharam digitalmente através de reprodução ao vivo pelas redes sociais do Archtrends – para prestigiarem as conversas e reflexões do arquiteto brasileiro de prestígio internacional Isay Weinfeld; do líder indígena e ambientalista Ailton Krenak; dos arquitetos Gab de Matos e Paulo Tavares, curadores do premiado Pavilhão do Brasil na Bienal de Arquitetura de Veneza em 2023; de Edu Lyra, fundador da ONG Gerando Falcões; dos italianos Matteo Ingaramo, diretor da POLI.DESIGN de Milão, e Cino Zucchi, professor de projeto Arquitetônico e Urbano na Politecnico di Milano; de Tom Dixon, fundador e diretor criativo da marca de design de luxo britânica Tom Dixon; de André Carvalhal, escritor, consultor e especialista em design para sustentabilidade; e da arquiteta e designer brasileira Patricia Anastassiadis.
Juntamente a esses, estiveram Pedro Andrade, jornalista brasileiro, apresentador e anfitrião oficial do evento; Taissa Buescu, atualmente consultora e curadora independe de design; Chris Ferreira, Diretora de Branding e Inovação e membro do Comitê de Sustentabilidade da Portobello, e Eduardo Scoz, Gerente de Branding da Portobello.
Durante a programação, também subiu ao palco Fernando Mungioli, Publisher da revista PROJETO, para anunciar o mais novo Prêmio PROJETO de Arquitetura, que prestigiará o fazer arquitetônico brasileiro de acordo com seu próprio arsenal de publicações, formado durante todo o ano anterior, juntamente com o apoio da Portobello:
Tudo aquilo que passa pelo nosso site, nossas redes sociais e edições especiais impressas, no recorte do ano anterior, culmina em nosso tradicional Anuário; há tempos pensávamos que esse conjunto merecia um prêmio e, agora, teremos! Trata-se de um prêmio curatorial de crítica, anual, que ainda não existe no Brasil, e o melhor de tudo isso é estarmos fazendo tudo isso com a Portobello”, anunciou Fernando Mungioli.
Como mídia parceira oficial do evento, a PROJETO também traz alguns destaques da programação do Archtrends Summit 2023 para conferir a seguir:
Inovação no Design, Matteo Ingaramo, Pedro Andrade e Chris Ferreira
Estreando a sequência de conversas da tarde, o trio reflete sobre a profusão do design italiano no mundo, que, segundo o diretor da POLI.DESIGN de Milão, Matteo Ingaramo, deve-se ao tripé inovação, eficiência na comunicação – englobando do processo produtivo à comercialização -, e escassez de recursos locais. De acordo com o Ingaramo, para qualquer desenvolvimento criativo, é essencial o respeito às condições e necessidades do território e, no que concerne à criação arquitetônica brasileira, acrescenta a necessidade de aliar tal respeito à potencialidade da natureza local e ao arsenal tecnológico.
A importância das cidades na arquitetura – Cino Zucchi
Professor de projeto Arquitetônico e Urbano na Politecnico di Milano, Cino Zucchi continuou representando a bandeira italiana no palco do Archtrends Summit e apresentou uma sequência de obras autorais que ilustram o modo próprio de fazer arquitetura – apesar da linguagem reconhecível no conjunto produzido ao longo dos anos, cada criação parte da essência do arquiteto, que sensivelmente interpreta respostas caso a caso, e enfatiza presença e função da fachada como elemento de suma importância.
Laboratório do Futuro, Gab de Matos e Paulo Tavares
A dupla abrilhanta a programação apresentando conceitos e componentes do Pavilhão brasileiro na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2023 que, intitulado Terra, foi também ganhador, ineditamente, do Leão de Ouro do evento em curso até o próximo novembro.
O pavilhão contextualiza a terra, sobretudo, como as culturas de matriz africana, afro-brasileira indígena também pensam esse elemento, mas em um sentido completamente distinto da sociedade ocidental, que o contextualiza de maneira extrativista”, Paulo Tavares.
Ambos contextualizam o aterramento do Pavilhão do Brasil, em Veneza, e os elementos pouco difundidos historicamente da mostra, onde está uma amostra da Terra Preta de índio; representações da Casa Branca, terreiro inaugural no país e arquitetura negra tombada; histórico do brasiliense Quilombo Mesquita; e mais.
Q&A Isay responde, Isay Weinfeld e Pedro Andrade
Pouco à vontade em público, o arquiteto Isay Weinfeld trouxe sua genialidade interdisciplinar para o palco do Archtrends Summit, onde revelou, em clima descontraído, a afinidade pelas artes e a inquietação de vida correspondente ao criar, nem sempre arquitetônica – faz parte da história do arquiteto os anos de graduação em cinema, cursados ao lado de Marcio Kogan. Weinfeld fala sobre suas variadas fontes de reflexões, não óbvias, mas por vezes cotidianas:
Minha busca é sempre pelo inusitado. Por exemplo, durante dez anos, religiosamente aos domingos, caminhar pela periferia de São Paulo e aprender com ela. Eu expresso parte disso através do Instagram, da fotografia, onde compartilho a beleza arquitetônica da periferia, unindo ao texto, e transformando em uma terceira coisa. Mas, na verdade, é um olhar que todos nós temos”, declarou o arquiteto.
O futuro em nossas mãos, Ailton Krenak e André Carvalhal
Na sequência de conversas, mais uma vez impressionou os ouvintes a sabedoria de Ailton Krenak, que alertou sobre a unidade de corpo e natureza – “nós somos natureza” -, a urgência de reconexões, e a proposição e defesa de políticas públicas para consciência e defesa em massa de conglomerados florestais e suas fronteiras. Para o ativista ambiental, escritor e líder indígena, futuros são suposições e “o que importa é a integralidade presente”:
Não temos tempo para falar sobre o sonho que uma criança teve na noite anterior. Aquele lugar que podia sonhar, agora está ocupado; é como alguns territórios, que são prósperos em produzir vida (…), mas a gente ocupa de maneira arbitrária”, declarou Krenak.
Diálogo com a essência, Patricia Anastassiadis e Taissa Buescu
A arquiteta e designer brasileira, Patricia Anastassiadis, discorreu sobre seu modo criativo, presente em diversas partes do mundo e expresso em variadas escalas e usos arquitetônicos. A profissional corrobora com a temática do evento, pois fundamenta cada obra na essência do lugar, na passagem do tempo, nas características intrínsecas, independentemente de gostos pessoais:
Se a proposta é um retrofit, por exemplo, não importa o meu gosto sobre algum elemento daquele espaço; a busca é sempre por respeitar e oferecer algo que complemente de maneira singela”, declarou.
Não importa de onde você veio, mas para onde você vai, Edu Lyra
O título da conversa é sobremaneira evocativo à essência de Edu Lyra, empreendedor social e fundador da ONG Gerando Falcões, pois traz a fala de sua própria mãe, dita repetidas vezes a Edu durante sua vida. A própria história de superação põe em voga a concretização de sonhos, hoje convertidos na transformação urbana de favelas do Rio de Janeiro – a anterior Boca do Sapo, hoje é chamada Favela dos Sonhos -, e na investida em dignidade de seus habitantes.
Design é processo, Tom Dixon
Referência em design britânico, Tom Dixon é criador e fundador da marca epônima que atua desde 2002 no segmento de iluminação, acessórios e mobiliário. O criativo encerrou a tarde expondo sua trajetória no design autoral, os fatídicos momentos de inspiração para evolução profissional, e trabalhos de própria assinatura. O designer explora plasticidade, materiais e modos de fazer, sendo o mais recente alvo de pesquisa a criação de mobiliários que, durante o processo conceptivo, incluem fase subaquática: “Essa criação também auxilia a vida de recifes de coral, preservando e regenerando esses conjuntos ecossistêmicos. Eu espero que no próximo ano já possamos apresentar resultados desse experimento que acredito ser promissor”, finalizou.