Igreja de São Francisco de Assis – a Igreja da Pampulha – em Belo Horizonte, Minas Gerais, depois do processo de recuperação (Foto: Lucas Nishimoto)
Reconhecida obra de Oscar Niemeyer, a Igreja de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte (MG) – comumente chamada de Igreja da Pampulha – será reaberta na próxima sexta-feira (4) após pouco mais de um ano desde seu fechamento em junho de 2018. A causa foi a necessidade de restauro em partes específicas da edificação.
Conduzida pela Tecnibras, construtora certificada sediada em São Paulo, a ação só teve início após amplo estudo para que a totalidade dos valores patrimoniais fosse mantida. Para tanto, deu-se atenção aos detalhes construtivos visando excluir a descaracterização do monumento tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN): “Nossa participação nesse processo foi uma grande oportunidade, principalmente quando pensamos na crise atual relacionada ao patrimônio, não exclusivamente brasileira. Essa questão foi a que aumentou nosso senso de responsabilidade e zelo por esse bem. Tivemos várias reuniões semanais para alinhamento de todas as propostas e serviços. (…) Soma-se, ainda, o fato de que ninguém conseguirá substituir a importância de Oscar Niemeyer na arquitetura e arte brasileiras. Então, ver o projeto de recuperação concluído é uma sensação de dever cumprido imensurável”, explicou Henrique Aidar, diretor da Tecnibras.
Assim, fizeram parte do plano cuidados com infiltrações existentes no edifício, bem como manutenções gerais que incluíram repintura, recuperação do calçamento em pedra portuguesa, limpeza e manutenção do famoso revestimento externo de pastilhas cerâmicas e a substituição do forro de madeira da nave central que, segundo Aidar: “Consistiu no maior desafio do processo, uma vez que cada peça possuía medida única e, sendo assim, foi necessário o mapeamento dos painéis e a utilização das peças pré-existentes como molde para a fabricação das novas”.
Ainda se destaca a questão da infiltração na construção, uma vez que, no início, era difícil quantificar a dimensão e o nível da patologia existente. O próximo desafio seria prever o fenômeno e impedi-lo: “Com a coparticipação de outra empresa, criamos um sistema de captação de água que a destina para seis compartimentos por meio de calhas de inox. Além disso, previmos um sistema cristalizador para impermeabilizar as superfícies e manter o fluído fora das juntas de dilatação da estrutura da nave”, detalhou Henrique.
As intervenções também consideraram o processo de aquecimento térmico acentuado recorrente na igreja. Para solucioná-lo, a equipe utilizou um revestimento composto pelo elemento Mylar – uma espécie de manta alumínica, mas de desempenho altamente superior: “Além de uma solução inteligente, é um contraponto entre o moderno e o antigo”, continuou Aidar.
Também se destaca o trabalho sobre as pastilhas cerâmicas externas, cuja recuperação precisou de assentamento e limpeza manuais para que as demais não fossem comprometidas. Durante toda a obra, a proteção dada aos bens materiais que compõem o conjunto colaborou para o sucesso de recuperação e incluiu atenção especial ao afresco e aos azulejos de Portinari, bem como ao contrapiso.
As obras de recuperação também fazem parte dos acordos assinados pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) após nomeação do conjunto arquitetônico como Patrimônio Cultural da Humanidade em 2016, quando, para receber o título, precisou-se comprometer com um novo plano de gestão entre os governos federal, estadual e municipal para garantir o bom estado de conservação de maneira contínua. A partir daí, tal plano passou a ser monitorado pela Organização.
Todo o processo também esteve aos cuidados especiais do IPHAN e foi possível através dos recursos fornecidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas, executada pela Prefeitura de Belo Horizonte e Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).