Apaixonados por Arquitetura: os principais recortes desta primeira fase de encontros

A iniciativa conjunta entre Revista PROJETO e Galeria da Arquitetura viabilizou nestes últimos dois dias, 7 e 8 de outubro, a reunião virtual entre parte dos ilustres nomes da arquitetura brasileira contemporânea. Confira os detalhes e acompanhe o restante da programação das próximas semanas, composta por lives com patrocinadores e outros arquitetos e projetistas para abordagem de produtos e seus aspectos técnicos

Entre os dias 7 e 8 de outubro de 2020, o Apaixonados por Arquitetura, realizado pela parceria entre Revista PROJETO e a plataforma Galeria da Arquitetura, no que já se configura como o maior e mais proeminente evento do setor deste ano atípico, congregou em formato on-line doze grandes nomes nacionais para fomentar os amplos sentidos da comunidade arquitetônica pela profissão, oferecendo conteúdo, inspiração, especificação e networking por meio de debates abrangentes.

Na quarta-feira (7), o encontro contou com a participação de Angelo Bucci, Arthur de Mattos Casa, Luiz Eduardo Índio da Costa, Fenando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, grupo sucedido pelo segundo bloco de apresentadores do quadro estipulado para a quinta-feira (8), a saber Marcio Kogan, Diana Radomysler, Fernanda Barbara, Fábio Valentim, Miguel Pinto Guimarães e Sávio Jobim (representando Carolina Bueno). Tais referências, através da temática condutora, expuseram aquilo que acreditam ser suas possíveis contribuições na área, demonstrando trabalhos recentes e icônicos autorais e também suas próprias inspirações. As conversas, moduladas em 45 minutos cada, contaram com introdução, abordagem livre de até 25 minutos e o restante aberto a perguntas variadas encaminhadas por Evelise Grunow, Editora Executiva da PROJETO, Fernanda Strazzacappa, Gerente de Conteúdo da Galeria, e, obviamente, pelos ouvintes.

Aqui, o leitor tem a chance de conferir algumas seleções dos considerados principais momentos das falas e reflexões dos arquitetos, tendo a chance de também assistir integralmente a ambos os dias de evento nos vídeos que se seguem.

Quanto ao Apaixonados por Arquitetura, vale salientar que a conclusão dos dois dias inaugurais não põe fim ao formato ao evento. Nas próximas semanas – mais especificamente nos dias 15, 16, 19, 20 e 21 de outubro – o roteiro será complementado por um segundo momento composto por 15 “lives-satélites”, distribuídas em trio a cada dia, junto a patrocinadores e outros arquitetos e projetistas para abordagem de produtos e seus aspectos técnicos. A programação pode ser conferida em detalhes no site do apaixonadosporarquitetura.com.br, assim como a inscrição gratuita.

Dia 1

Abrindo o encontro da quarta-feira (7), Angelo Bucci, fundador e diretor do paulistano spbr arquitetos, trouxe consigo a apresentação de alguns dos recentes projetos que marcam sua carreira multidisciplinar no que diz respeito aos variados usos aos quais o arquiteto se debruça. Dentre eles, menciona-se aqui a Residência no Jardim Europa, e, como recém-inaugurado, o Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo, eleito pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2019, a melhor obra de arquitetura do Estado de São Paulo.

Como destaque à ampla contribuição de Bucci, destaca-se sua generosa forma de apresentar criações através do desenho, colocando tal forma de representação como uma ferramenta efetiva de registro de conversas que, tornam-se, ao final, um dos possíveis entendimentos do processo criativo. Neste sentido, ao ser questionado sobre as dificuldades em manter a essência de uma ideia durante o processo projetual, o arquiteto pontua:

Em primeiro lugar, vejo como um tipo de atenção ao que é essencial, ao que estrutura a proposição arquitetônica em cada caso. Todo o projeto tem uma ordem hierárquica no sentido de desenho (…). Não descaracterizar uma ideia ao longo de tantas considerações ao longo do processo liga-se com o acordo bem estabelecido entre o solicitante do projeto e a equipe que irá desenvolvê-lo – onde ninguém vai se surpreender, mas somar num propósito único. Assim, o propositor quer apenas viabilizar, do melhor modo, a essência que lhe deram e, para que uma ideia persevere, ela precisa ir se provando válida, efetiva, reafirmar-se como melhor proposta. Uma das formas é pelo desenho”.

Sequenciando Bucci, o arquiteto Arthur Casas, fundador do Studio que carrega seu nome, também compartilha da vocação múltipla de atuação profissional, defendida e justificada, pelo próprio arquiteto, a partir do conceito de Gesamtkunstwerk aplicado à arquitetura, aproximando as diversas escalas possíveis de projeto pela complementação que estabelecem necessariamente entre si.

De acordo com Casas, a principal preocupação condutora de suas propostas diz respeito às relações que serão estabelecidas entre criação e meio, com o intuito de “não ferir a paisagem existente”. Ainda sobre questões de elaboração projetual, o arquiteto pontua sobre o compartilhamento das ideias com toda uma equipe de trabalho. “Há projetos que eu quero desenhar sozinho, mas em outros o trabalho em equipe é fundamental, e os envolvidos, muitas vezes, nem são arquitetos de formação”.

Após Casas, o terceiro convidado da tarde, o arquiteto Luis Eduardo Índio da Costa, iniciou sua apresentação examinando o próprio tema que nomeia o evento.

A primeira pergunta feita pelos organizadores pedia para que eu explicasse como sou apaixonado por arquitetura. É difícil. Acho que paixões que se explicam, tornam-se racionais, portanto perdem o sabor, o ineditismo e a força emocional que carregam. Por isso eu não sei exatamente dizer o porquê do meu sentimento pela arquitetura, mas consigo explicar, muito simplistamente, que eu sempre me interessei por arte, em especial pela pintura, mas que a arquitetura foi uma forma, mais ou menos natural, de personalizar algo que me dava prazer. É uma paixão que me dá muita alegria e muito ânimo de continuar”.

Neste sentido, Índio da Costa complementa que, em sua carreira, “cada projeto é uma emoção” e que “não adianta esperar cair no colo uma oportunidade incrível de projeto, tem é que transformar cada um deles em uma oportunidade incrível de projeto”.

Encerrando o encontro, os sócios fundadores do escritório paulistano FGMF – Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz – compartilharam com os participantes acerca da trajetória profissional que os uniu nessa empreitada dirigida a três. Autores de inúmeros projetos de sucesso, nacional e internacionalmente, têm se aplicado à produção vasta no que diz respeito a usos, escalas e técnicas construtivas – explanado com mais detalhes na apresentação feita por Marcondes Ferraz nesta quarta-feira.

O trio foi ainda questionado quanto às dificuldades (se existentes) de tomar decisões projetuais compartilhadas por três dirigentes. “Ao longo do tempo, desenvolvemos uma capacidade de comunicação muito grande, e isso é fundamental. Sempre temos discussões construtivas e que vêm para expandir as nossas próprias linhas de pensamento individual e, cada vez mais, temos a necessidade de uma equipe complementar de arquitetos que opine e não somente exerça funções ‘braçais’. Nosso objetivo é abrir ainda mais as direções de pensamento”, explicou Lourenço Gimenes. Em complemento, Fernando Forte afirmou: “Tivemos uma grande sorte de termos começado a projetar juntos quando éramos estudantes ainda. Ninguém sabia nada e isso nos ajudou a sermos democráticos na criação, de verdade (…). Quando chegamos numa encruzilhada do projeto, temos sempre uma terceira opinião. Um defende para o outro o que queremos”.

 

Dia 2

Inaugurando a quinta-feira (8), segundo dia do encontro, a dupla Marcio Kogan e Diana Radomysler apresentou uma seleção de projetos recentes assinadas pelo Studio MK27, no qual desempenham, respectivamente, papéis de fundador e diretora desta extensa produção que representam. Ao perpassarem por diferentes escalas e áreas criativas (uma qualidade notória do escritório), o conteúdo exposto evidenciou o caráter de valorização à simplicidade formal, ao extremo cuidado, à atenção aos detalhes e à incorporação sinestésica que acompanham os projetos, sempre fruto do equilíbrio entre todos os elementos citados. No entanto, para o efetivo desenvolvimento do resultado, a dupla pontua depender de uma equipe estritamente pensante, com “alto nível de obsessão pelo detalhe”.

Já para o consumidor final, no que diz respeito à explanação das ideias e aceite dos clientes, o escritório trabalha com uma equipe específica que elabora apresentações nos mais variados formatos – maquetes, renders, filmes e outros – justamente pela virtude sinestésica das obras do MK27. “Assim fazemos com que o projeto seja sentido da melhor forma possível”.

A próxima dupla de convidados, Fernanda Barbara e Fábio Valentim, tomou a frente para discorrer sobre o histórico de formação de suas carreiras, compartilhadas desde sempre entre as esferas projetual e acadêmica. Os arquitetos refletiram com o público a respeito da concomitância entre o início de suas trajetórias profissionais aos tempos de guinada do setor construtivo da capital paulista, local identificado como a matriz das questões que pautam seus trabalhos. “Uma das maiores regiões metropolitanas do mundo, a cidade [de São Paulo] tem sido o território de reflexões, com desenvolvimento de projetos, edifícios residenciais, grandes equipamentos e espaços públicos, além de projetos efêmeros, especialmente para exposições de artes visuais”.

Para exemplificar tal pluralidade, a dupla destacou, dentre os projetos apresentados, aquele que se destina ao Sesc Parque Dom Pedro II, no Centro Histórico de São Paulo. A rica contribuição da proposta, por anos em processo de maturação, vem para substituir a unidade provisória da sede do centro cultural que se encontra implantado no local, vislumbrando, assim como destacado por Barbara, “transformar positivamente o entorno”. Neste sentido, a arquiteta complementa “

Se por um lado aquele é um lugar menos aprazível hoje, ainda se figura como um ponto de enorme fluxo para a cidade. Entendemos que o Sesc será um prédio de transformação positiva para aquelas partes do Centro que hoje se encontram tão desconectadas. A proposta, que se atenta, sobretudo, em não retirar aqueles que utilizam o local hoje em dia, chamará a atenção do poder público para esse espaço de cidade”.

Em seguida, Miguel Pinto Guimarães, fundador do paulistano e carioca MPGAA Arquitetos, ao levantar perspectivas acerca de sua própria trajetória no campo arquitetônico, compartilhou das mesmas opiniões da dupla UNA BV, no sentido de que a “arquitetura deve ser pensada para o bem da coletividade”. Recentemente, Miguel lançou-se na empreitada empreendedora, ao lado de Sergio Conde Caldas, e, juntos fundaram a Opy, uma incorporadora que deseja oferecer projetos ainda não ofertados pelo mercado imobiliário do Rio de Janeiro, onde, entretanto, possui uma demanda por propostas não usuais.

Temos um compromisso com arquitetura e com o bem viver – algo que o empreendedor imobiliário não oferece, ou usa de artifícios relacionados para simplesmente comercializar os empreendimentos.  Nós buscamos o melhor de cada espaço e, por isso, abrimos mão de parte de margens de lucro para buscar esse sucesso projetual. Em contrapartida, tentamos compensar com inteligência, oferecendo propostas racionais, por exemplo, ou especificando produtos de parcerias com fornecedores importantes. No final, conquistamos ainda uma liberdade que não tem preço”.

Para concluir o primeiro momento da programação do Apaixonados por Arquitetura, o diretor de criação do escritório franco-brasileiro Triptyque, Sávio Jobim, ao discorrer sobre icônicos projetos da história do escritório, pontuou aspectos intrínsecos à trajetória desta gigante formação arquitetônica, levantando fundamentos e diretrizes projetuais que dão tom aos trabalhos do escritório. Dentre muitos, o destaque foi para a vasta aplicação da madeira na estruturação dos projetos.

A Triptyque tem 20 anos de existência e, para nós, é sempre interessante observar como se deu o processo de evolução. A conduta do escritório sempre foi muito esclarecida, pois desde o começo se falava em seguir pelo viés sustentável – assunto que, naquela época, ainda era muito recente. Hoje vemos tal conceito biofílico enraizado em todos os nossos processos de incorporação. (…) Também entendemos que, das mesmas dificuldades sofridas anteriormente, no que diz respeito ao cruzamento da fronteira para preferir o que é sustentável, estamos na virada de incorporar, como matriz construtiva, a madeira em detrimento ao concreto”.

 

 

Apaixonados por Arquitetura | sequência das próximas lives
Datas
15, 16, 19, 20 e 21 de outubro
Horário 15h às 17h
Programação e inscrição através do apaixonadosporarquitetura.com.br
Realização Galeria da Arquitetura e Revista PROJETO