Espaço cultural patrocinado pela municipalidade de Palmital, cidade com 17 mil habitantes (dados de 1982), localizada a 400 km da capital. Edifício solitário numa praça ajardinada, três fachadas marcadas com arcos de entrada e a quarta com brises coloridos conferem caráter adequado ao centro.
O edifício é ordenado segundo um módulo de 10 m, com os espaços abertos e fechados respeitando a malha estrutural. Basicamente compõe-se de um auditório para 120 pessoas, biblioteca com capacidade para 20 mil volumes e 20 consulentes, salões de exposição e salas administrativas. Todas as dependências se voltam para o pátio interno, aberto, caracterizado como um espaço virtual pelas vigas da modulação da estrutura.
A construção foi realizada por empreiteira da região, com mão-de-obra local, que passou a dominar a técnica do concreto aparente, executado sem dificuldades.


Os extremos arquitetônicos do país
Nada mais contrastante que o centro cultural de uma cidade no interior do estado de São Paulo, projetado por um notável arquiteto da linguagem do concreto, Ruy Ohtake, e um clube no mais importante balneário na capital do Pará, obra em madeira de Milton Monte.
O arquiteto paulista, na casa dos 50 anos, bastante conhecido e estudado, exercita sua criatividade num edifício que deve refletir a simplicidade de um programa compatível com o porte de uma cidade igualmente singela. Desenha um espaço pouco usual em sua maneira de projetar: um pátio interno que, de tão generoso, não parece interno, não fosse a contenção sugerida pela malha estrutural visível, tão ao sabor das soluções de Oswaldo Bratke dos anos 40/50. Introduz de forma segura uma tecnologia construtiva desconhecida localmente, mas assimilada sem dificuldades pela mão-de-obra, segundo seu depoimento. A arquitetura, então, é um vetor de progresso.

Milton Monte – um veterano profissional belenense na casa dos 60 anos, para o qual a Projeto passará a chamar a atenção de seus leitores – busca na sabedoria da tradição o insumo construtivo para sua obra amazônica. Lá, ao contrário do Sudeste/Sul, o homem é menos protagonista e mais coadjuvante na paisagem natural. Desafiar a natureza não é uma atitude sábia ou coerente com o ambiente. Desconhecido na mídia especializada, Monte é um arquiteto cuja sensibilidade amazônica o credencia ao lado de Severiano Porto e assina soluções assimiladas com sabedoria e respeito por João Castro Filho.
Ohtake e Monte: duas posturas diametralmente opostas na arquitetura brasileira. Alguém poderia aventar: quem está na contramão? O pensar arquitetônico não é uma avenida de uma ou duas mãos: é uma praça com vários recantos e, como tal, de todos. (Hugo Segawa)
Publicada originalmente na revista PROJETO edição 156 – Setembro 1992
Ficha Técnica
Centro Cultural Antônio Sylvio Cunha Bueno
Local: Palmital, SP
Data do projeto: 1982
Data da construção: 1983
Área do terreno: 8 460 m2
Área construida: 800 m2
Arquitetura: Ruy Ohtake, Walter Makhohl, Márcia Umeoka, Márcia Rossi
Construção: Nelmo Engenharia e Construções Ltda.
Fotos: José Moscardi Júnior, Osmar Bustos