Foto: Ilana Bessler

Metro Arquitetos

O primeiro semestre de 2016 foi de atividade intensa no Metro Arquitetos Associados, escritório paulistano liderado por Martin Corullon, Gustavo Cedroni, Marina Ioshii e Helena Cavalheiro, e composto ainda por outros dez colaboradores. Além da rotina de desenvolvimento dos projetos, estava em curso a reestruturação da equipe que, após uma década de estica e encolhe do número de arquitetos e estagiários – prática corriqueira na profissão -, pretende por fim à gestão vinculada ao fluxo descontínuo dos trabalhos, a favor da estabilidade da empresa. Sim, vivemos um momento de crise no Brasil que afeta em massa, embora em graus diversos, a atuação dos arquitetos. Mas para o Metro a hora é de olhar para frente e constituir as bases do que consideram o seu time ideal. Aparentemente, eles chegaram lá.

 

Estabilidade profissional

Atualmente há as gerências de administração, financeira, gestão geral e técnica dos projetos e comunicação, além do quadro de arquitetos e estagiários que atuam no desenvolvimento dos trabalhos. Marina Ioshii faz a supervisão técnica, resultado de sua dupla educação – arquiteta e engenheira civil – na FAU/USP e na Escola Politécnica da USP. Ela começou no Metro como estagiária, em 2010. Já Lena – apelido de Helena Cavalheiro -, formada em 2008 pela UFRGS, faz a coordenação geral dos trabalhos. “Tive experiências ecléticas, na arquitetura, nas artes e no urbanismo”, ela informa, de onde vem o olhar múltiplo, essencial ao desempenho da sua atividade.

A gaúcha, que desde 2009 trabalha em São Paulo – com pausa em 2011, para retornar à equipe da Bienal do Mercosul em Porto Alegre – começou a atuar à distância com o Metro, em 2012, no escritório da obra do projeto expográfico da 30ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo.

Juntamente com Corullon, Gustavo Cedroni encabeça a criação, prospecção e tratativas com os clientes, além do acompanhamento de obra e desenvolvimento dos projetos. Ou seja, o ciclo completo da arquitetura. Formado pela Faap, ele foi estagiário de Pedro Paulo de Melo Saraiva e trabalhou também com Eduardo Colonelli até que em 2001 recebeu o convite para se juntar temporariamente ao recém-constituído Metro (em 2000), por três meses, em projetos dos CEUs (Centros Educacionais Unificados, da Prefeitura Municipal de São Paulo). Sua trajetória na equipe, contudo, como atesta essa matéria, é bem mais duradoura do que isso.

Já Martin Corullon, como veremos adiante, é o fundador do escritório. Em suma, a nova estrutura concluída em 2016 profissionaliza a equipe e, em termos de porte, é considerada pelos sócios como o escritório ideal. Representa, assim, uma mudança de paradigma em sua trajetória – em vez de se reorganizarem continuamente em função dos trabalhos, o questionamento passou a ser: “que tipo de escritório queremos ter, que projeto queremos fazer e quem queremos trabalhando para fazê-los?”, salienta Cedroni.

Esse é o olhar para o futuro do Metro mas, para vislumbrarmos a sua essência, vale traçarmos o retrospecto dos principais projetos que implantaram até aqui. Foram eles que moldaram a equipe.

 

Origem

A história do Metro começa em 2000, ano da sua fundação por Corullon, Guilherme Wisnik e Rodrigo Cerviño Lopez, atualmente titular do Tacoa Arquitetos. Se até o terceiro ano da FAU/USP Martin não tinha ideia clara do que esperava da profissão, o contato com Paulo Mendes da Rocha – seu professor de projeto naquele período – traria a certeza de que o desejo era constituir escritório próprio.

E foi a participação no projeto expográfico da Bienal de São Paulo de 1998, assinado por Mendes da Rocha e tendo Corullon à frente do posto da obra, o veículo de tal convicção. Havia dois anos que o então estudante colaborava com o arquiteto capixaba, estendendo ao trabalho a relação professor-aluno da faculdade.

“Ele tinha voltado a dar aula para os mais novos e era um jeito diferente de conduzir o ateliê, sem atendimento de projeto. Falava por quatro horas seguidas, juntando uma verdadeira plateia […]. O Paulo, então, foi convidado para participar da bienal de Havana e chamou a mim, o Guile e o Rodrigo para selecionarmos material no escritório dele. Essa relação continuou nas outras bienais paulistanas e, entre outros, nos cenários que fizemos com a Bia Lessa no Rio, até que a expografia da bienal de arte foi como uma transição para mim. Convenci meus colegas a abrirmos o nosso próprio escritório”.

E o que significa Metro? Pode ser unidade de medida ou a contração da palavra metropolitano, mas Corullon já não tem muita clareza sobre como chegaram a esse nome. Tempos depois de constituída, Cerviño e Wisnik se desligaram da sociedade; entrou Ana Ferrari, que ficou no escritório até 2013, e posteriormente Gustavo Cedroni. Até que, na transição de 2015 para 2016, chegou-se à configuração atual, com a associação de Marina e Lena.

 

 

Principais projetos

Os sócios do Metro são uníssonos em afirmar que veio da prática o seu aprendizado do que é um escritório de arquitetura e, nesse sentido, os projetos que desenvolveram tiveram o papel de moldar a sua estrutura tal como ela é hoje. O que significa que, com certo amadorismo, os arquitetos se viram seguidamente tateando novas frentes de trabalho e, com elas, descobrindo modos diversos de projetar e de se instrumentalizarem criativamente até que, há pouco, conquistaram a maturidade, na forma da constância dos processos de concepção e administrativos.

Em sua trajetória, naturalmente, a proximidade com Mendes da Rocha deu vários empurrões. “Começamos o escritório com a cara e a coragem, sem nenhum projeto. O primeiro para valer foi com o Paulo, o de uma casa. Depois, ele nos trouxe edifícios e nós fomos aprendendo na raça”, analisa Corullon.

Enquanto isso, de autônomos no período inicial, foram se tornando mais constantes as criações para a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação) e os CEUs, além de exposições e cenografias.

O desejo de projetar edificações na mesma frequência das arquiteturas efêmeras começou a ser atendido então com a primeira encomenda solo e de grande porte que receberam em 2005: um edifício administrativo conjugado a dois hangares para a companhia aérea Gol, em Confins, MG – construção industrializada que, concebida em prazo enxuto, os ensinou a gerenciar a complexidade de projetos complementares. “Éramos muito jovens e tivemos que nos estruturar com o hangar – um projeto de 17 mil metros quadrados”, comenta Cedroni.

Com isso, adquiriram a experiência necessária para a incubência seguinte com Mendes da Rocha, que foi a concepção do Cais das Artes, iniciada em 2007, atualmente em construção em Vitória, ES. “O Paulo percebeu que tínhamos nos capacitado com a Gol e nós, por outro lado, reconhecemos nosso potencial para nos tornarmos um escritório para valer”, complementa o arquiteto.

No mesmo período projetaram a Galeria Leme e, na sequência, a Casa Matriz, ambas com Mendes da Rocha. Veio um interregno com a entrega do executivo do Cais das Artes – “trabalho em que vivenciamos todas as experiências possíveis em um projeto de arquitetura” – e então, Corullon partiu em expedição independente pela Europa.

Conseguiu uma posição no escritório de Norman Foster, em Londres, aonde conviveu com escala e organização empresarial diametralmente opostas às do Metro. De volta, a equipe paulista recebeu em 2009 a requisição do museu da Nestlé, em Caçapava, SP, o que gerou um novo aumento no quadro de funcionários.

De marcante, os arquitetos mencionam o processo de convencimento do contratante a aceitar proposta diversa à sua ideia prévia e, principalmente, a grande visibilidade alcançada na mídia especializada. “Houve uma experimentação formal grande. Esteticamente, é um projeto bem diverso daqueles da geração pós-Paulo”, analisa Corullon.

Se a Nestlé trouxe o reconhecimento pelo meio, a expografia da 30ª Bienal de Arte de São Paulo, em 2012, deu a eles visibilidade no campo externo à arquitetura. Trabalhando com as múltiplas demandas dos artistas, o projeto foi instrumentalizado a partir da maquete que fizeram do pavilhão da bienal, com a qual testavam o desenrolar das cenografias. “Em Londres, usava constantemente as máquinas de corte a laser, de onde criei o hábito de modelar sempre. De volta ao Brasil, convenci meus sócios e alguns escritórios parceiros a comprarmos um equipamento daqueles. Demorou dois anos para viabilizar, mas conseguimos; e foi a agilidade industrial que nos permitiu fazer a maquete da bienal”, relata Corullon.

Outra incursão marcante na história do escritório foi o projeto recente, de 2013, de requalificação da Ladeira da Barroquinha, em Salvador. Ou seja, a ação no espaço público. “Gosto muito deste trabalho tanto pela localização quanto pelo seu desenho forte”, analisa Cedroni, que cita ser esta uma frente a qual pretendem se dedicar com mais afinco assim que o país sair da recessão atual.

Por ora, contudo, falta encomenda. Por outro lado, o projeto do auditório e edifício das Ciências Fundamentais para o ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), em São José dos Campos, SP, iniciado em 2013 (leia PROJETO 418, jan-fev 2015), assim como parte da concepção da quadra educacional da entidade, assinada em parceria com o MMBB e o Piratininga Arquitetos, assinalam a maturidade conquistada pelo escritório em anos recentes, seja pela grande escala ou pela complexidade do trabalho.

Amadurecimento que culmina com uma das mais importantes e volumosas frentes de atuação do escritório atualmente, os projetos expográficos e de readequação dos espaços internos do Museu de Arte de São Paulo (MASP), iniciada em 2015, quando o Metro foi convidado a integrar a equipe de curadores adjuntos da instituição.

Faz parte destas realizações a remontagem e readequação dos icônicos cavaletes de concreto e vidro desenhados pela projetista do museu, Lina Bo Bardi, assim como os desenhos de todas as exposições sediadas pelo Masp.

Na prancheta do escritório estão, atualmente, projetos internacionais – uma loja de cosméticos Aesop em Miami e um módulo residencial pré‑fabricado em Londres -, um pavilhão temporário para a Olimpíada do Rio de Janeiro, o anexo de uma casa de Vilanova Artigas no Sumaré, em São Paulo e, entre outros, o Legado das Águas, que publicamos nesta seção Perfil, junto ao projeto da galeria Casa Triângulo, em São Paulo.

 

 

Entrevista

Como se caracteriza o processo criativo do metro?
Gustavo Cedroni Temos procedimentos que se repetem, como a fabricação de maquetes, a realização de estudos prévios, muita conversa, desenhos e discussões, mas cada projeto tem um modo diferente de operação. Alguns são mais coletivos, outros tem lideranças mais marcadas, seguidas pela estruturação de um time de desenvolvimento. Sempre nos perguntamos o que queremos ser e o que estamos sendo nesse momento.

E estão satisfeitos com o que são?
Martin Corullon Acho importante a nossa história de diversidade projetual, não queremos virar especialistas em nada. É desafiador criar conexões entre áreas diferentes, como a arquitetura e a arte, que se alimentam mutuamente. A necessidade do detalhamento técnico da arquitetura tem impacto na expografia e esta, por sua vez, nos permite experimentar mais nos projetos das edificações.
GC Houve um longo caminho até chegarmos à estrutura que temos hoje. Nos ressentíamos muito, quando éramos um ateliê, com o fato do escritório crescer e diminuir ao ritmo dos projetos. Em termos de equipe, isso é muito ruim. Hoje, mesmo na crise, mantemos a mesma configuração. É o nosso desejo de sermos um escritório de tamanho médio – nem pequeno demais, nem grande ao ponto de nos obrigar a fazermos coisas em que não acreditamos. Por outro lado, temos eliminado os problemas de comunicação interna. Martin e eu costumamos nos entender sem falar, mas não é assim que se administra um escritório.

Continuam a participar de concursos? O que eles trazem de ensinamento para o metro?
Helena Cavalheiro São menos constantes, atualmente. Nossa rotina já está bastante no limite.
GC Mas eu puxo muito o escritório para fazermos concursos. Sempre aprendemos com as parcerias, como a associação que fizemos (em 2012) no projeto (de candidatura de São Paulo) para as Olimpíadas, coordenado pelo Paulo (Mendes da Rocha).
MC Foi interessante o contato mais íntimo com o Una, o MMBB, o Eduardo Colonelli e o Piratininga, que já conhecíamos bem mas não tínhamos ainda tido a experiência direta do  trabalho. Aprendemos bastante. Mérito também do Paulo, que sempre foi o aglutinador desses encontros.

Muda a forma de atuarem nestas parcerias?
MC No geral não, embora com o Paulo tenha a dinâmica própria dele. Aprendemos a lidar com o seu tempo e, assim, ganhamos autonomia para terminarmos os projetos. De modo geral, acho que todas as parcerias do escritório tiveram sucesso. Os projetos decolaram.

A que tipos de trabalhos pretendem se dedicar no futuro próximo?
MC Nos animam esses projetos urbanos que apareceram em 2013, como o Centro Aberto (parceria do Itaú com a PMSP) e a Ladeira da Barroquinha. Queremos que venham muitos mais.
GC De repente houve uma demanda forte, urbana. Pena que chegou a crise.
MC Mas ela é circunstancial. Assim como, por outro lado, também é o fato de estarmos trabalhando fora do Brasil. Vimos que não tem porque ficarmos só aqui.

 

Metro Arquitetos: Casa Triângulo, São Paulo

Metro Arquitetos: Legado das Águas, São Paulo

*O conteúdo do Acervo PROJETO está em constante atualização. Algumas matérias publicadas podem apresentar textos em desacordo com as regras ortográficas atuais, bem como imagens em menor resolução que o ideal, ou mesmo a falta delas. Ajude-nos a atualizar o site enviando mensagens aqui.