Entrevista: Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes falam sobre suas influências, trajetórias e processo de trabalho nos sete anos de existência do escritório

A produção arquitetônica de Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes - composta sobretudo por casas paradisíacas, nas quais a expressão estilística não fica em segundo plano - segue uma tradição de três gerações, sem, contudo, deixar de ter personalidade própria. Para isso contribui um processo de trabalho formatado ao longo dos sete anos de existência do escritório, que concilia criação e qualidade de execução.

A produção arquitetônica de Paulo Jacobsen e Thiago Bernardes – composta sobretudo por casas paradisíacas, nas quais a expressão estilística não fica em segundo plano – segue uma tradição de três gerações, sem, contudo, deixar de ter personalidade própria. Para isso contribui um processo de trabalho formatado ao longo dos sete anos de existência do escritório, que concilia criação e qualidade de execução.
Li declarações suas mencionando ter idealizado este livro para pontuar a transição entre seu trabalho com Claudio Bernardes e com o filho dele, Thiago. Poderia nos falar a respeito?
Paulo Jacobsen Fui sócio de Claudio até o seu falecimento, há uns oito anos, quando comecei a trabalhar com Thiago, que chegou a participar do nosso escritório por um breve período. Mas o tipo de atuação, a forma de projetar, com um e com outro, são totalmente diferentes. Quisemos então pontuar essa passagem, essa transição.
A seleção das 25 casas publicadas no livro é elucidativa dessa passagem? Porque seus projetos com Thiago são bem mais diversificados em programa.
PJ Exatamente. Com Claudio, projetei inúmeras casas, primeiro no Rio, em Angra, depois em áreas urbanas cariocas, em São Paulo e outras capitais. Começamos a trabalhar juntos depois de um período em que me desiludi da arquitetura, nos anos 1970, época da repressão política. Dediquei-me à fotografia por um tempo, mas logo voltei à profissão.
Como era o trabalho com Claudio?
PJ Éramos muito concentrados no terreno e nas demandas do cliente. Fazíamos sempre maquetes grandes dos lotes para examinar a topografia, as orientações, as potencialidades naturais. Também visitávamos os locais para ter em mente as vistas, a paisagem, e abrir a arquitetura para a natureza. Era um processo bastante empírico de desenvolvimento, não havia regras de estilo, materiais, nada disso. Eram soluções caso a caso, embora prevalecesse a vontade de fazer uma arquitetura extremamente confortável, ligada à paisagem.
Quem influenciou vocês?
PJ Obviamente, Niemeyer e Sergio [Bernardes] eram figuras muito presentes em nosso pensamento sobre a arquitetura. O primeiro não só pela quantidade de obras, mas também por toda aquela história de examinar o potencial do concreto. E embora Claudio não tenha trabalhado com o pai, costumávamos frequentar o escritório dele, acompanhávamos seu pensamento e produção.
Como a produção sua e de Claudio se encaminhou para os projetos residenciais?
PJ Houve um grande período em que nossa produção era mais focada nos projetos de interiores. Fizemos muitas reformas em apartamentos do Leblon, Ipanema. Derrubávamos tudo por dentro, abríamos espaço, e esse procedimento de certa maneira se manteve na nossa forma de projetar as edificações. Em dado momento já estávamos com a produção concentrada em Angra, e não paramos mais de projetar casas.
O fato de ter se dedicado por um tempo à fotografia influenciou de alguma maneira sua produção arquitetônica?
PJ Acho que não. A fotografia foi mesmo um distanciamento no período dos comunistas boêmios do Rio de Janeiro.
Foi uma mudança e tanto, então, passar a projetar com Claudio residências particulares tão luxuosas, não?
PJ Se olharmos em retrospectiva, sim. Mas foi um processo lento, desde as reformas até a produção das novas casas, que eram tão simples em programa, em forma de ocupação e de se relacionarem com o entorno. Não tinham ostentação. Voltando à questão da diferença entre Claudio e Thiago, por mais que as coisas se entrelacem – e eu acredito que existam pontos em comum -, são escritórios completamente distintos. Acho que agora é mais profissional, menos intuitivo experimental e mais experimental tecnológico.
No sentido de existirem mais parcerias com outros profissionais da área?

PJ Sim, as coisas hoje são mais especializadas. Não existia, por exemplo, o lighting designer, nós mesmos é que projetávamos a iluminação no escritório, experimentalmente, e para certo tipo de cliente nem sequer se faziam esses projetos todos de instalações, de ar-condicionado, automação. Hoje em dia há muito mais profissionais envolvidos nos projetos. Hélio [Olga] era provavelmente um dos únicos com conhecimento para fazer aquelas estruturas de madeira. Quando eu e Claudio fizemos a vila de madeira em Iporanga, não encontramos um profissional como Hélio e foi um desafio calcular a estrutura. Voltando a Sergio Bernardes, posso dizer que ele era uma figura muito presente em nossas referências, embora houvesse certo distanciamento entre ele e Claudio. E creio, também, que Thiago tem uma relação arquitetônica mais próxima do avô do que do pai. Pode ser algo da relação entre pai e filho, não é, Thiago?

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