O contexto da fundação da AsBEA, em 18 de junho de 1973, foi o da necessária representatividade dos escritórios brasileiros de arquitetura e urbanismo em meio ao “milagre econômico” do Brasil nos anos 70. Frente às inúmeras oportunidades de trabalho em projetos infraestruturais que atraíam a atenção de grandes empresas de engenharia, afeitas à indiscriminada participação de arquitetos estrangeiros e nas quais a arquitetura estava muitas vezes relegada a papel secundário, um grupo de notáveis arquitetos de São Paulo e do Rio de Janeiro começou a dar forma à jurisprudência para a defesa dos interesses dos escritórios do Brasil.

Foi o trio Mauricio Roberto, Alberto Botti e Roberto Aflalo que liderou a iniciativa da criação da entidade, como depõe o próprio Botti, arquiteto que viria a ser eleito o primeiro presidente: “Naquele momento resolveu-se a criação de uma organização brasileira de escritórios de arquitetura; portanto num nível maior de responsabilidade, sem concorrência com o IAB, que reunia indivíduos e não empresas”. Vale lembrar que, há 50 anos, a profissão era predominantemente praticada no Brasil por profissionais liberais, e se criatividade não faltava – naquele momento abriam-se as portas da primeira Bienal de Arquitetura de São Paulo, por exemplo – o mesmo não se podia dizer da cultura empresarial arquitetônica.

A regulamentação de base da associação prevaleceu, obviamente, nos primeiros esforços dos seus criadores, determinados, porém, a ampliar ao máximo o quórum da discussão dos estatutos fundacionais. As reuniões iniciais contaram com a presença dos representantes de três escritórios apenas, mas o boca a boca que se seguiu teve o grande mérito de angariar 22 assinaturas no documento de fundação. Rosa Grena Kliass foi a figura feminina signatária.
Curiosamente, as primeiras realizações da associação foram de promoção da arquitetura brasileira no exterior, na via oposta, portanto, de uma das razões da sua criação e diversa ainda da visão consagrada na Brazil Builds, exposição realizada em 1943 no Museu de Arte Moderna de Nova York. Em sinergia com o Itamaraty, onde o diplomata Paulo Tarso Flecha de Lima (1933-2021) foi chefe do Departamento de Promoção Comercial, a AsBEA encabeçou a realização de uma mostra itinerante sobre a arquitetura brasileira, apresentada em países do Oriente Médio – potencial parceiro comercial do Brasil e com o qual Flecha de Lima tinha familiaridade. Ainda que por motivos alheios à arquitetura tal aproximação tenha retrocedido pouco depois, Botti analisa que o mérito da iniciativa foi ter alterado o “status da aproximação dos escritórios estrangeiros com o Brasil”.



A AsBEA ganha capilaridade
Na primeira fase da sua trajetória, a AsBEA foi um ente federal. Apenas em 1986, mais de dez anos depois da sua fundação, é que surgiu a primeira regional da associação, no Rio Grande do Sul, seguida por Rio de Janeiro (2000), Paraná (2002), Santa Catarina (2006), Ceará (2010), Amazonas (2011), Minas Gerais (2016), Goiás (2018), Pernambuco e São Paulo (2019). Em alguns casos, os departamentos regionais se desenvolveram a partir de órgãos de classe existentes previamente nos Estados, mas a separação dos âmbitos brasileiro e paulista, que acumulava os papéis de uma regional e da direção nacional, foi o desfecho de um pleito de longa data e importante passo institucional, analisa Miriam Addor. Há 15 anos atuante na instituição, onde já exerceu o cargo de presidente e da qual é atual vice-presidente nacional, a arquiteta acredita que a dissociação permitiu a São Paulo, a maior regional da AsBEA, mergulhar nas suas pautas específicas, e ao conjunto dos departamentos, organizar e dar vazão às questões compartilhadas nacionalmente.
A partir de 2019, foi para a AsBEA-BR que se encaminharam as demandas nacionais dos escritórios de arquitetura, angariadas pelos presidentes e vice‑presidentes das regionais”, explica Addor.
Relações de trabalho, a democratização do acesso à ferramentas digitais de desenho, a internacionalização dos escritórios brasileiros e a participação da associação, junto com o CAU/BR, nas tratativas em torno de um projeto de lei para o micro empreendedorismo no setor são exemplos dados pela arquiteta de discussões em andamento. Danilo Batista, atual presidente da AsBEA-BR, complementa o depoimento, observando: “A AsBEA-BR tem o papel de unificar as ações regionais, discutir os temas de interesses dos associados, sempre levando em conta as realidades e culturas regionais e propor iniciativas de alcance nacional.” Neste sentido, Miriam Addor salienta complementarmente a consolidação recente dos Grupos de Trabalho, operados nacionalmente mas conduzidos por regionais conforme a proposição dos mesmos ou a maior afinidade local com o tema.
Feitos memoráveis e a ASBEA do futuro
Ainda que a criação da AsBEA-BR tenha sido um marco na trajetória da entidade, no sentido da adequada condução dos assuntos a que se dedica, já antes de 2019 foram muitas as suas realizações através da que hoje é denominada AsBEA-SP. No nível municipal, por exemplo, a participação na Comissão de Proteção da Paisagem Urbana (CPPU) da Prefeitura Municipal de São Paulo foi fundamental para a intermediação da municipalidade com os escritórios locais no contexto da regulamentação da chamada Lei Cidade Limpa, de 2006/2007, de radical reformulação da paisagem visual da cidade. No nível nacional, os movimentos para a criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, CAU/BR, pleito antigo da classe efetivado somente em 2011, tiveram a ativa participação em meio ao Colegiado Brasileiro de Arquitetos, criado em 1990.
A AsBEA, assim, faz parte do Colegiado das Entidades Nacionais de Arquitetos e Urbanismo (CEAU), órgão consultivo permanente do CAU/ BR. No nível internacional, a pauta das exportações da arquitetura brasileira que esteve presente já nos primeiros passos da associação foi retomada com força há uma década, inicialmente em parceria junto à Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), e depois, a partir de 2019, mantida pela AsBEA-SP. O Built by Brazil evoluiu de um Projeto de Promoção de Exportações, a um Programa de Internacionalização com produção das Estratégias de Internacionalização da Arquitetura e Urbanismo Brasileiros, a partir de 2020. Conforme explica Addor, a principal mudança ocorrida recentemente foi a inclusão na agenda do apoio aos escritórios brasileiros interessados em prestar serviços no exterior e, vice-versa, do estabelecimento de parcerias com escritórios estrangeiros que queiram atuar no Brasil, e de ações estratégicas para o desenvolvimento de negócios ligados a projetos a serem implantados no Brasil.


Milene Abla, presidente da AsBEA-SP (2021 a 2023), assumiu junto à atual diretoria regional a tarefa de organizar os preparativos para a próxima convenção nacional da entidade, que reune escritórios associados de todo o país e promove palestras inseridas em um vasto programa de atualização profissional, programada para ocorrer de 14 a 17 de junho próximo, em Atibaia (SP). “As convenções anuais são importantes momentos de encontro dos associados, e o intuito de realizá-las em cidades diversas é levar a AsBEA para as regionais. Este ano, contudo, a ideia foi nos reunirmos em São Paulo para destacar a importância paulista nos 50 anos da associação ”, relata a arquiteta. As ações já em curso ou programadas para as comemorações são de caráter cultural e comunicativo, mas direcionadas a projetos de requalificação e valorização dos centros urbanos. Milene destaca a necessidade de trazer essa mensagem à sociedade, através destas ações.
A AsBEA tem ampla atuação institucional, assumindo ao longos destes 50 anos papel importante de interlocução no setor, junto ao poder público, na produção de conteúdo técnico e na orientação quanto a gestão e profissionalização das empresas de arquitetura. Porém, todo este trabalho deveria ser melhor comunicado aos nossos pares e à sociedade, apontando a importância da nossa atuação”, destaca.

O movimento das comemorações coincide com a revalorização em curso dos espaços públicos de tantas cidades brasileiras, com a qual a AsBEA colabora, bem como com o sempre bem-vindo crescimento do número de escritórios e profissionais engajados com o cotidiano da associação – cerca de 450 escritórios. “Cada regional busca a sua ampliação local, não somente para ganhar corpo, mas também para ampliar nossa capacidade de atuação que se dá através da colaboração voluntária dos escritórios associados. Somando esforços nesse papel institucional, diversificamos as nossas pautas e o ganho é para o exercício diário da profissão”, conclui, acenando para a importância da não acomodação da entidade aos números expressivos que conquistou até aqui.