As lições da arquitetura brasileira de Lina Bo Bardi | Por Luís Antônio Jorge

“Chove dentro da alta fantasia” é um verso de Dante, lembrado por Ítalo Calvino ao explicar o papel da imaginação na criação literária. Imagens chovem do céu, enviadas por Deus ao poeta, e constituem sua fantasia, seu poder de formar imagens. A visibilidade, para ele, é um valor estético na literatura e decorre da capacidade criativa de projetar imagens em nossa tela interior. Essa forma peculiar de entender o papel da imaginação no processo criativo do poeta ilustra nossa primeira impressão quando observamos as aquarelas de Lina Bo Bardi: é a de estarmos presenciando uma chuva de imagens, provenientes de uma inesgotável fonte de imaginação. Alegria, irreverência e despojamento de um desenho minucioso ao inventariar os objetos do homem.

Uma aquarela, provavelmente realizada de uma janela sobre o largo Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, em 1946, ao mesmo tempo que apresenta um quadro da vida na cidade, é um belo exemplo dessa forma de manifestação pertencente à tradição dos retratos e relatos de viagem. Só que, nesse caso particular, tratava-se de um lugar que Lina considerava inimaginável, “onde tudo era possível”.2 Era necessário registrar esse país inimaginável, torná-lo visível, para evocar as promessas que ele guardava.

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