Ana Roxo, Claudio Sat, Felipe Florentino e Hanna Andrade: Arquiteturas Pós-COVID19 | Edifícios Sociais e de Saúde

A pandemia designada de COVID-19 chegou em 2020 e desvendou as fragilidades do sistema de respostas sociais em todo o mundo, com particular penalização dos pacientes do serviço de saúde idosos, crianças e profissionais de saúde.

Somos uma equipe de arquitetos portugueses e brasileiros que, perante este cenário, redirecionou a sua atividade para encarar os efeitos desta catástrofe e fornecer contribuições válidas – imediatas e a médio e a longo prazos. Produzimos respostas focadas nas nossas possibilidades de ação, enquanto Arquitetos, no contexto atual e pós-pandemia do COVID-19.

Este estudo, portanto, procura sistematizar e registrar algumas reflexões acerca do impacto que o COVID-19 tem tido nos espaços que habitamos e as possíveis contribuições da arquitetura na solução ou, pelo menos, na redução de contágios de doenças infecciosas.

Tendo em conta a urgência de implementar soluções, e apesar da ainda pouca distância crítica relativa ao tema, apontamos aqui um caminho possível: uma metodologia que denominamos ARQUITETURAS PÓS-COVID19.

Centrada em soluções modulares e numa redefinição funcional e espacial de algumas das tipologias de apoio social vigentes em Portugal mas, como mostramos adiante, de fácil transcrição para o Brasil e outros países – a exemplo das Estruturas Residenciais Para Idosos – ERPI (no Brasil, Lar de Idosos), as Creches e as Unidades de Cuidados Continuados – UCC (no Brasil, as Unidades de Pronto Atendimento), de saúde -, procura-se mitigar problemas e melhorar as condições de utilização dos edifícios durante e após períodos epidêmicos ou pandêmicos.

Já antes da pandemia a perspectiva de envelhecimento dos portugueses e brasileiros colocava como crítica a reduzida capacidade dos equipamentos de Apoio aos Idosos para a satisfação das suas necessidades, presentes e futuras. No que se diz respeito à Creches, onde a situação é mais pulverizada, se apontava para a necessidade de se fazer os ajustamentos territoriais que respondam às dinâmicas demográficas dos países. Quanto aos equipamentos de saúde, nomeadamente a rede de cuidados continuados, os investimentos tem sido insuficientes e sem correspondência evidente com o aumento da cobertura. Daí a relevância de reforçar a oferta, particularmente falha neste setor.

De uma forma geral, o déficit de integração setorial e territorial das respostas sociais vem conduzido a uma segmentação temática que dificulta a racionalização da prestação de serviços às populações de forma territorialmente ajustada às necessidades. Tal segmentação acarreta custos acrescidos e perdas de eficiência dos investimentos, tanto por via da sobreposição de recursos como de desaproveitamento de potenciais complementaridades entre equipamentos congêneres.

Optamos por desenvolver estas três tipologias pelo fato de ter sido nas suas áreas que a “explosão” do COVID-19 revelou profundas fragilidades, afetando idosos e a vida familiar: pais que não conseguiam ter na própria habitação condições para trabalhar, nem possibilidade de deixar os filhos em instituições dedicadas. A análise dos fatos evidenciou a conexão entre o contágio/mortalidade e a concepção dos edifícios. Sobressaiu a importância da arquitetura, ou seja, do tratamento do espaço, como disciplina essencial para a recuperação desta crise.

Grande parte dos equipamentos existentes são obsoletos, os programas e a organização espacial desapropriados, a organização espacial é inadequada e são insuficientes as instalações sanitárias. Apostar na procura de modelos mais resilientes e seguros é, portanto, um imperativo de uma sociedade pós-Covid e um desafio para o futuro imediato: o que mudar na Arquitetura pós pandemia?

De uma forma ágil e econômica, propomos soluções diferentes e muito competitivas, destinadas a instituições abertas, inclusivas baseadas no convívio entre pessoas mas também preparadas para evitá-lo em situações como as que vivemos atualmente ou em períodos como a gripe sazonal, causadora de inúmeros óbitos anuais.

Com base num conjunto de alterações estratégicas que apresentamos a seguir, o passo urgente será o de conceber projetos ajustáveis às especificidades de cada situação concreta, dando origem a novos edifícios, ou alterações, bem distintos dos concebidos antes da pandemia.

 

 


A Proposta: O Sistema
ARQUITETURAS PÓS-COVID-19

Não se trata da apresentação de projetos apenas, mas da defesa de um Sistema que permitirá construir, adaptar ou reabilitar, de forma ágil e econômica, uma quantidade considerável de equipamentos.

Cabe destacar que este Sistema não é inteiramente novo, mas a evolução de outra solução modular aplicada a escolas, concretizada por nós em Portugal entre os anos de 2008 e 2010. É justamente a reciclagem de algumas daquelas soluções que nos permitem transformar a combinação de módulos em projetos aptos para construção num breve intervalo de tempo (tal como num “Lego”).

Através do desenvolvimento de duas características específicas – a modularidade e a sua adaptação funcional ao COVID-19, a nossa pesquisa foi orientada para a concepção de novos edifícios (ampliações) das ERPI, vulgo Lares para Idosos, e respectivo “Bloco Sanitário”, de Creches e de UCC.

Modularidade porque, tal como num “Lego”, estes edifícios resultam da combinação de peças que, com base numa métrica preestabelecida, integram todas as funções exigidas na legislação em vigor; apesar de fazer uso dos sistemas construtivos tradicionais, não implicando pré-fabricação construtiva, a celeridade no projeto é a sua principal vantagem, já que o mesmo parte de uma etapa de desenvolvimento pré-concebida. Não se trata de um sistema pré-fabricado, rígido, mas de um módulo tipológico – um meio e não um fim.

Adaptação funcional porque as peças se agrupam de modo a incorporar muitas das exigências funcionais e espaciais mitigadoras da pandemia. Adotam ingressos independentes, espaços COVID-19, a possibilidade de compartimentação, entre outros.

Rapidez, adaptação ao COVID-19, redução de custos e possibilidade de repetição constituem as qualidades procuradas nesta Nova Geração de Edifícios pós-COVID19.

 

 


A metodologia do Sistema
ARQUITETURAS PÓS-COVID19

A metodologia de projeto proposta desenvolve-se em sete fases determinantes:

 

1. A Legislação Específica ou Programa Preliminar

A primeira abordagem implica uma análise profunda da Legislação Específica destas tipologias. Foi precisamente destes documentos que extraímos um Programa Preliminar, instrumento a partir do qual se começam a explorar arquitetonicamente as relações funcionais entre espaços, serviços e circuitos, ajustando o programa às dimensões padronizadas derivadas do Módulo espacial predeterminado.

 

2. Os Módulos

Iniciamos em seguida a concepção dos Módulos propriamente ditos, incluindo as áreas mínimas exigidas e adaptando-as a um módulo espacial de 7,50m x 7,50m.

Cada um dos espaços funcionais necessários está contido naquele módulo, ou em múltiplos e/ou submúltiplos dele. Isso quer dizer que as áreas resultantes do processo serão aproximadas às constantes no Programa Preliminar e darão origem ao denominado Programa Proposto.

A combinação da totalidade dos módulos deste “Lego” permite, se for necessário, gerar um grande número de tipologias híbridas mais diferenciadas e/ou inovadoras.

Este esforço de modelar a Legislação, constitui, possivelmente, a contribuição mais original desta Metodologia. É por isso importante defender a manutenção inalterada destes módulos, uma vez que, desde a sua gênese, é assegurada a sua viabilidade funcional e normativa.

 

3. O Programa Proposto

 

As dimensões resultantes da definição projetual dos módulos vêm alterar e substituir as que constam do Programa Preliminar, dando origem ao Programa Proposto, agora com as áreas racionalizadas de acordo com a modulação. É com estas novas métricas e áreas que trabalharemos nos projetos.

O novo dimensionamento não esgota o que caracteriza este Programa, mas acolhe também a introdução de novas atividades e soluções que podem contribuir significativamente para a mitigação da pandemia, dando origem às mudanças elencadas a seguir em “Algumas Alterações Tipológicas”.

Existem assim, em rigor, dois Programas Propostos, sendo que um respeita rigorosamente a legislação para uma Estrutura para Apoio a Idosos e um outro Programa Proposto, alternativo, que dá origem a esquemas mais complexos e diversificados, aqui designado de “Lar Colorido”.

 

4. Alterações Tipológicas

Referimos que a criação dos módulos é uma das duas contribuições de maior destaque nesta aproximação metodológica. O outro é o das Alterações Tipológicas, a introdução de algumas variáveis funcionais e espaciais resultantes das exigências derivadas da pandemia e que deveriam transformar estes edifícios.

Quais são algumas das alterações concretas nos Edifícios que estamos propondo?

  • Aumento da área destinada a funções sanitárias nas Estruturas para Apoio aos Idosos;
  • Distinção clara de 4 setores: o de Alojamento, o Social, o Sanitário e o de Serviço, cada um deles com entradas independentes, todos eles vinculados ou separados por circulações e portas que servem de saída conforme estejamos numa fase de normalidade ou de emergência;
  • Criação do Bloco Sanitário, com potencial para funcionar como uma unidade independente com âmbitos dedicados à saúde e à internação;
  • Compartimentação dos espaços de convívio e espaços exteriores que poderá ser eliminada conforme a situação;
  • Aumento de 10% de todas as áreas, tendo em conta que o espaçamento entre as pessoas aumentou devido ao distanciamento social;
  • Quartos, na sua maioria individuais, e com instalações sanitárias também individuais;
  • Aumento das exigências relativas à Ventilação e à Iluminação natural;
  • Utilização de materiais higiênicos, duradouros e com baixos custos de manutenção;
  • Concessão dos ingressos destes edifícios pós-pandêmicos como uma rede de espaços que reduzem a interação exterior – interior, caracterizada pela sequência: proteção climática, zona de espera, sala de desinfecção, sala de visitas COVID-19 e porta principal; de destacar a utilização de panos envidraçados que permitem a visualização das pessoas e atividades no interior, nomeadamente ver familiares sem a necessidade de estabelecer contato físico com os pacientes. Denominamos estas entradas “Ingresso ARQUITETURAS PÓS-COVID19”.

 

5. Legislação

Posteriormente é estudada a Legislação Geral para proceder à distribuição dos Módulos, circulações e ingressos numa composição que denominamos “Agrupamentos Modulares”. Nesta volumetria já são integradas todas as exigências implicadas nos projetos complementares como o estrutural, de segurança, instalações elétricas e termoacústicas, entre outras.

Esta forma de “projetar a partir da legislação” decorre da importância que esta tem assumido nos últimos anos ao nível do projeto de arquitetura, condicionando fortemente os resultados finais e, consequentemente, a aprovação desses projetos pelas entidades licenciadoras ou consultoras.

 

6. Agrupamentos Modulares

 

A sexta etapa deste processo, a concepção dos Agrupamentos Modulares, exprime a volumetria do “Lego”, com maior ou menor densidade, conforme, por exemplo, a dimensão e geometria dos terrenos, os índices de ocupação, a posição dos ingressos e as orientações dos espaços, antecipando igualmente a configuração e dimensões dos espaços exteriores gerados e suas características.

É nos Agrupamentos Modulares que se manifesta outra inovação desta metodologia, já que estes esquemas respondem às exigências do COVID-19. Eles constituem a tipologia funcional e espacial do edifício, a sua organização e expressão volumétrica.

 

7. Projeto

A sétima e última fase é a definição do próprio Projeto, a transformação dos Agrupamentos Modulares no edifício de acordo com um determinado lugar e para um determinado cliente, na sequência do desenvolvimento de desenhos de construção.

Genericamente, os objetivos metodológicos perseguidos são os seguintes:

  • REDUZIR O TEMPO DE PROJETO
  • RACIONALIZAR PROCESSOS, de concepção e construção
  • Aumentar a PREVISIBILIDADE dos custos de obra
  • ASSEGURAR A FLEXIBILIDADE dos projetos, garantindo a sua adaptabilidade a contextos diversos e programas dinâmicos;
  • MELHORAR A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E ENERGÉTICA;
  • CONCEBER UMA IMAGEM para cada Cliente ou Instituição.

O Sistema ARQUITETURAS PÓS-COVID19 não pretende constituir uma fórmula rígida e fechada. Pelo contrário, representa uma solução flexível e aberta que, dentro dos limites que uma metodologia de unidades modulares pressupõe, possibilita alterações e adaptações. É nesta fase de Projeto que podem ser introduzidos os ajustamentos necessários nos Agrupamentos Modulares, tais como as dimensões dos módulos, das divisórias interiores e as geometrias correspondentes à forma e topografia do terreno, por exemplo.

Nesta ótica, como referido, o Projeto nasce de uma etapa de desenvolvimento mais avançada, pré-concebida.

 

 

 


Projetos de Verificação

Os Projetos de Verificação resultam do desenvolvimento das tipologias anteriores com o objetivo de simular e avaliar situações que poderiam ser reais, sugerindo soluções para a envolvente, os materiais e o tipo de terreno necessário.

O previamente afirmado não implica que estes projetos representem atualmente um simples “exercício”. Pelo contrário, o nível de desenvolvimento na escala 1:100 e 3D traduzem um nível de definição equivalente a Projetos de Licitação.

Em resumo, estes Projetos configuram uma resposta concreta à premissa central deste estudo, orientada pela necessidade de dar respostas urgentes a este tipo de instituições. Os Projetos podem transformar-se em soluções prontas para iniciar os trâmites de aprovação pelas entidades competentes e desenhos de construção para obras, se tal for necessário.

Nos textos dos exemplos que se seguem, mais que uma descrição de cada edifício em particular, interessa-nos identificar e reforçar as constantes que fazem deles parte de um mesmo Sistema, ou de uma mesma família. Assim a área coberta total, o número de módulos que os compõem, as dimensões mínimas necessárias dos terrenos, a quantidade e tipos de ingressos, as alterações funcionais introduzidas e os materiais propostos, entre outras, formam parte desse leque de constantes descritas.

Nesta publicação será apresentado como exemplo e mais detalhadamente, o projeto da ERPI com pátios ou “ERPI colorida”, sendo os restantes, ilustrados apenas através de imagens 3D.

 

Estrutura Residencial para Idosos (ERPI)
com pátios ou “ERPI colorida”

 

Com uma área coberta total de 2600 m2 este projeto constitui o nosso protótipo acarinhado. Trata-se do estudo com maior significado para o futuro desenvolvimento deste tipo de edifício.

A nossa intenção neste estudo tem sido a de transformar as Estruturas para Idosos nas designadas Nursing Homes, reforçando a sua componente sanitária, função que surge como sendo bastante evidente na sequência da pandemia.

É, precisamente, devido ao seu caráter experimental nos contextos de matriz latina que esta proposta se assume como modelo ideal de Lar. Mas, diga-se também, que os princípios que se encontram na sua raiz deveriam orientar o funcionamento de outros edifícios coletivos igualmente condicionados pelo COVID-19.

Quais são as alterações concretas aplicadas na concepção da ERPI Colorida? Na realidade, é neste protótipo que se encontram aplicadas a maior parte das “Alterações” já anunciadas, uma vez que as mesmas se consolidaram, em grande parte, através do desenvolvimento deste modelo experimental.

Importa-nos mencionar também que este protótipo e as alterações que implica, impõe uma mudança ética no planejamento e programação destas estruturas sociais: destinar mais recursos financeiros a estes edifícios, contribuindo para uma melhor qualidade de vida dos usuários e um reforço das componentes de saúde nos edifícios sociais e, vice-versa, um reforço dos espaços de convívio nos equipamentos de saúde.

Uma vez feita esta importante clarificação, descrevemos brevemente as alterações funcionais propostas: criação da Sala de Visitas COVID-19; possibilitar a compartimentação de espaços interiores e exteriores; eliminar quartos triplos, diminuir os duplos e aumentar os individuais, com instalações sanitárias exclusivas; aumentar a ventilação e iluminação natural; organização do edifício em quatro setores: alojamento, social, sanitário e de serviço, cada um deles com entradas independentes, incluindo o sistema chamado Ingresso ARQUITETURAS PÓS-COVID19.

 


 

Neste esquema funcional, os diferentes espaços cobertos estão devidamente separados pelos espaços exteriores que, durante esta pandemia, têm se revelado tão úteis devido à ventilação natural que permitem, mas também por potencializar atividades no exterior ou, tão só, a fruição do ar livre.

É precisamente uma delas, o terraço, que concentra as atividades lúdicas e terapêuticas, tais como hortas e canteiros que estimulam objetivos de “cuidar” ou “produzir”, uma ligação com a Vida e um espaço exterior de cooperação e interação.

Temos denominado este como o “Lar Colorido” porque cada parte desta residência foi simbolicamente pintada com a cor correspondente a cada um dos seus setores independentes. Da direita para a esquerda, reconhecemos o setor verde (sem perigo) relativo aos quartos com residentes saudáveis, tanto no Piso térreo como no Piso 1; no centro, o setor amarelo (precaução) que caracteriza a zona pública; à esquerda, no Piso térreo, o setor laranja (maior precaução) e vermelho (perigo), com entrada independente e precedida pela Sala de Visita COVID-19 para impedir o contato direto entre visitantes e residentes do Lar.

Finalmente, no Piso 1 desse setor vermelho, a zona de quartos com os pacientes doentes ou infectados. Nota-se que, no Piso 1, os setores verde e vermelho podem não ter conexão em períodos de emergência ainda que, obviamente, este conjunto funcione como unidade conjunta e conectada, de cor verde, nos períodos sem doenças. É precisamente este último setor laranja-vermelho que constitui o Bloco Sanitário, o qual, como anunciado, representa um corpo que pode funcionar de forma independente ou integrado com as outras funções desta Estrutura para Idosos.

Separado (ou conectado) do resto do edifício por um pátio autônomo e por duas circulações fechadas (ou abertas), o Bloco tem uma área construída de 1.000 m2 e os módulos no Piso térreo que denotam a sua função sanitária: Consultórios, Enfermaria, Ginásio (exercícios), Zonas de copa e de convívio. No Piso 1 existem oito quartos que podem ser destinados a isolamento, em caso de necessidade. A área de cada quarto é de 18,00 m2, dimensão que lhe permite estar associado a uma unidade de cuidados continuados. O resto dos quartos tem áreas de 16 m2.

O ingresso ao Bloco Sanitário é variável, consoante a opção de isolar ou abrir à comunidade, em função da situação de saúde dos seus residentes.

 

 

Estrutura Residencial (ERPI) compacta


 

Com a área coberta total de 1.400 m2, os espaços estão agrupados em torno de uma circulação central, à volta da qual se distribuem os serviços no piso térreo e os quartos no Piso 1.

No Pavimento Térreo existem três ingressos, o principal, o da ambulância e o destinado ao serviço. Em caso de alerta pode ser ativado um suplementar de modo que os visitantes disponham de uma entrada direta e segura aos espaços sociais de Convívio e de Refeitório.

Como anteriormente mencionado, o sistema de ingresso corresponde a uma das “Alterações Tipológicas”, sendo comum nos vários projetos.

Apesar das suas dimensões reduzidas, existe a preocupação de valorizar os espaços exteriores. A maior parte dos quartos estendem-se para um pátio de uso exclusivo, enquanto uma esplanada unifica a Sala de Convívio e o Refeitório. As áreas correspondentes a estas duas atividades encontram-se subdivididas entre o piso de acesso e o Piso 1 com o propósito de evitar dimensões que estimulem as aglomerações.

 

Creche


 

Com área coberta total de 580 m2, os seus módulos estão dispostos em torno de um pátio central descoberto numa proposta decididamente direcionada ao seu interior. Ao invés das soluções semelhantes da Estrutura para Idosos e da UCC, que partilham uma grande parte dos 21 módulos do Sistema, o programa da Creche fornece três módulos específicos: Berçário e as Salas, dos 24 e 36 meses.

Dentro do sistema do ingresso, a Sala de Visitas COVID-19 é substituída por uma sala de espera dos pais envidraçada que restringe o acesso dos familiares à instituição, protegendo as crianças e o pessoal de possíveis contágios.

A Creche organiza-se de acordo com dois eixos: um primeiro – Norte/Sul, com a sequência ingresso/pátio coberto, e outro – Leste/Oeste, onde se destacam os espaços comuns do Refeitório e os quatro pátios (pátio descoberto, coberto e os correspondentes às salas das crianças de 24 e 36 meses.

 

Unidade de Cuidados Continuados (UCC)


 

Tem uma área coberta total de 1700 m2 e utiliza vários módulos específicos desta tipologia – sala de exercícios físicos, salas de terapia, consultórios médicos, farmácia e espaços de desinfecção.

O esquema proposto é compacto e muito semelhante ao da Estrutura para Idosos, distribuído a partir de um eixo central de circulação. Na UCC a solução do ingresso é levada ao extremo com uma cobertura de amplas dimensões que se transforma numa sala de espera exterior com bancos fixos, diminuindo as aglomerações no interior. A separação entre esta sala de espera exterior e a sala de espera interior está materializada por um extenso envidraçado através do qual os pacientes visualizam o número de atendimento correspondente.

A proposta do tijolo à vista surge como consequência da sua durabilidade e fácil manutenção ao longo do tempo, opção destinada a evitar que as instalações se sujeitem a obras que interfiram com o funcionamento e com a higiene deste tipo de instalação.

 

 


Conclusão – O que é que estamos propondo?

Como se esclareceu no início, a ideia central deste trabalho é apresentar uma alternativa de projetar “a priori” a partir de uma Metodologia de projeto baseada no Sistema ARQUITETURAS PÓS-COVID19. É nesta metodologia, mais que nos projetos aqui delineados, que temos colocado a nossa atenção.

Uma Metodologia Ready Made que tem expressão num “Lego” de edifícios modulares multifuncionais, tornando-os mais econômicos e rápidos, oferecendo respostas excepcionais a uma situação excepcional como a que vivemos.

Uma Metodologia que recicla soluções arquitetônicas, pressupõe a preexistência de projetos já testados e em condições de serem rapidamente aprovados, prontos para concorrer a financiamentos e licitações.

Uma Metodologia que estimula a redefinição tipológica, que resulta numa série de protótipos representativos de uma nova geração de equipamentos pós-COVID19, mas que acolhe múltiplas possibilidades de evolução ou transformação.

Uma Metodologia inovadora, mas ao mesmo tempo segura, fundamentada no respeito pela legislação vigente, matéria-prima de todo este processo.

Pensamos, finalmente, que estamos apresentando soluções eficientes e dignas a todos os usuários destes edifícios e, ao mesmo tempo, competitivas e diferenciadoras relativamente às instituições e proprietários que fornecem estes serviços. Soluções que, como se indicou na Introdução, se apresentem como inovadoras, fortemente focadas em promover os encontros sociais e, simultaneamente, em evitar situações como a que vivemos.

 

Ana Roxo é licenciada em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa (1984). Possui uma experiência abrangente de participação em projetos e instrumentos de planejamento, com diferentes escalas e abordagens, em contextos diversificados (nacional e internacional), direção de equipes multidisciplinares e relacionamento com entidades públicas e privadas nos mais variados setores de atividade. A reflexão teórica e busca de soluções inovadoras tem sempre acompanhado o seu percurso.

 

Claudio Sat licencia-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Córdoba, Argentina em 1989. Continuou os seus estudos no Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza entre 1990 e 1995. Em 2005 abre a sua empresa em Lisboa dedicada à arquitetura, ao desenho urbano e à divulgação através da publicação de livros e concepção de exposições. Tem dado especial enfoque à Arquitetura Modular, com projetos em Portugal, Moçambique, Brasil e Países Árabes.

 

Felipe Florentino é arquiteto e urbanista formado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – Minas), em 2018. Estudante de Mestrado no programa Master of Science in Architecture na Universidade do Arizona, com foco de pesquisa no avanço do processo de desertificação na região Nordeste do Brasil.

 

Hanna Andrade é arquiteta e urbanista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – Minas), em 2018. Profissional com foco em estudo de projetos sociais e em pesquisa urbana, no campo de tecnologia da informação no acesso democrático à cidade.

 

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